16 de ago. de 2018

Os recursos humanos e a vontade Divina. (por Felipe Azevedo)



''E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, sacou da espada e, golpeando o servo  do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. Então Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?'' Mateus 26:51-54

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 O presente texto narra o momento da prisão de Jesus. Era a noite anterior à sua crucificação, o início da madrugada em que seria jugado perante o Sinédrio (o supremo tribunal judaico). Os quatro evangelistas narram com detalhes este momento dramático: a truculência dos guardas enviados para leva-lo preso, a frieza de Judas, um de seus discípulos, ao trai-lo, indicando Jesus com um beijo, a reação humana dos apóstolos diante da situação, e a espantosa e divina serenidade de Jesus. Quero refletir, porém, sobre o texto, acerca da reação de Pedro, que lança mão de uma espada que carregava consigo, e fere um servo do sumo sacerdote, e a de Jesus, que carregava apenas Sua gloriosa doçura e obediência inabalável ao Pai.
  Pedro fazia parte do colégio apostólico, isto é, o grupo separado dentre os muitos discípulos, para acompanhar a Cristo de forma plena (Mateus 10:1-2). Todos estes tiveram um chamado particular do Mestre para segui-lo. Eles deixaram as suas funções e profissões, e dedicaram as suas vidas para então aprender e realizar a obra que Cristo lhes designara. Dentre os 12 que compunham o círculo apostólico, haviam 3 que participavam de uma intimidade ainda maior com Jesus, e um deles era Pedro (Mateus 17:1). Porém, mesmo depois de 3 anos e meio (segundo muitos estudiosos) de ministério, andando com Jesus, Pedro ainda carregava uma ''espada''. Tal ainda, era a ignorância dos discípulos com relação à mensagem de Jesus e o significado de todos os sinais que por Ele eram realizados, que eles somente entenderam a natureza do Reino de Deus que o Mestre viera inaugurar, após a ressurreição de Jesus. Enquanto este dia não chegou, Pedro andava com sua espada, isto é, confiava no seu braço, quis resolver a situação à sua maneira. Eles não podiam assimilar as palavras de Jesus em seu significado pleno: ''O que faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois'' (João 13:7).
  Assim, todo homem que tentar andar com Jesus, ao mesmo tempo em que confia na sua sabedoria, na sua justiça, na sua ''força interior'', logo que chegar diante dele a cruz de Cristo, ele desertará, ele se escandalizará, ele não suportará a ordem de Jesus: ''É necessário''. Este é o abismo intransponível que separa a comunidade dos salvos e perdidos, entre aqueles que baixaram suas ''armas'' cedendo à vontade do Pai, e aqueles que permanecem lutando com seus ''recursos humanos'', que não cedem ao chamado de Cristo para o arrependimento e a fé, que tentam viver ignorando o Evangelho, abafando a voz do Espírito que os chama; ''E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim'' (Mateus 11:6). Jesus tinha plena consciência do que Lhe aguardava: dor, zombarias, injustiça, morte. Mas o seu coração era imóvel em relação à vontade do Pai. Tendo em suas mãos, a qualquer momento, a possibilidade de fuga, de uma deserção, de retaliação contra seus adversário, Ele se submete totalmente à vontade do Pai: ''Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero e sim como tu queres.'' (Mateus 26:39b). A vontade de Deus para nossas vidas é que nos submetamos à Jesus: ''Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.'' (João 5:23b). Que nos acheguemos à ele com todos os nossos pecados, debilidades, fraquezas e humilhações, para que tenhamos vida, para que encontremos descanso e paz: ''Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.'' (Mateus 11:28). Mas a todos quanto não o quiserem, nada mais lhes restará da parte de Deus senão ira, indignação, dor e morte: ''Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do Unigênito Filho de Deus.'' (João 3:18). Portanto esta é a vontade de Deus e a promessa que a acompanha, Glória a Deus! ''Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros'' (João 21:19). Pedro cedeu. Abandonou a si mesmo: ''Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo'' (2 Pedro 1:1).