2 de mar. de 2020

O Céu. (J. I. Packer)


“Não se turbe o vosso corações; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”. João 14.1-3

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Céu, que tanto no hebraico como no grego é uma palavra que significa “firmamento”, é o termo bíblico para casa ou morada de Deus (Sl 33.13,14; Mt 6.9), onde está seu trono (Sl 2.4); o lugar de sua presença, ao qual o Cristo glorificado retornou (At 1.11); onde a igreja militante e triunfante agora se unem para a adoração (Hb 12.22-25); e onde um dia o povo de Cristo estará com seu Salvador para sempre (Jo 17.5,24; 1 Ts 4.16,17). Ele é retratado como um lugar de descanso (Jo 14.2), uma cidade (Hb 11.10), e um país (Hb 11.16). Em algum ponto futuro, ao tempo da volta de Cristo para o juízo, ele tomará a forma de um cosmos reconstruído (2 Pe 3.13; Ap 21.1).

Pensar no céu como um lugar é mais correto do que errado, embora a palavra possa iludir. O céu aparece na Escritura como uma realidade espacial que toca e interpenetra todo o espaço criado. Em Efésios, Paulo localiza no céu tanto o trono de Cristo à mão direita do Pai (Ef 1.20) como as bênçãos espirituais e a vida ressurreta dos cristãos em Cristo (Ef 1.3; 2.6). Os “lugares ou regiões celestiais” em Efésios 1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12 é uma variante literária de “céu”. Paulo alude a uma experiência no “terceiro céu” ou “paraíso” (2 Co 12.2,4). Não há dúvida de que o céu do trono de Deus deve ser distinguidos das regiões celestes ocupadas pelos poderes espirituais hostis (Ef 6.12). Um corpo de ressurreição adaptado à vida no céu espera por nós (2 Co 5.1-8), e aquele corpo veremos o Pai e o Filho (Mt 5.8; 1 Jo 3.2). Mas, enquanto estamos em nossos corpos atuais, as realidades do céu são invisíveis e normalmente imperceptíveis a nós, e as conhecemos somente pela fé (2 Co 4.18; 5.7). Entretanto, nossa conexão com céu e seus habitantes, o Pai, o Filho, o Espírito, os santos anjos, e os espíritos demoníacos nunca devem ser esquecidos: porquanto é uma questão de sólido fato espiritual.

A Escritura ensina-nos a formar nossa noção da vida no céu por (a) extrapolar da relação menos do que perfeita que temos agora com Deus o Pai, o Filho e o Espírito, com outros cristãos e com as coisas criadas para a ideia de uma perfeita relação, livre de toda limitação, frustração e fracasso; (b) eliminar de nossa ideia de uma vida vivida para Deus todas as formas de sofrimento, maldade, conflito e angústia, tais como as que experimentamos aqui na terra; e (c) enriquecer nossa imaginação com aquela felicidade futura, incluindo cada conceito de excelência e gozo natural que conhecemos. As visões da vida celestial em Apocalipse 7.13-17 e 21.1-22.5 aproximam-se de todas as três formas de concebe-la.

De acordo com a Escritura, a constante alegria da vida no céu para os remidos será originada de (a) sua visão de Deus na face de Jesus Cristo (Ap) 22.4); (b) sua contínua experiência do amor de Cristo, à medida que Ele lhes ministra (Ap 7.17); (c) sua comunhão com os amados e com todo o corpo dos remidos; (d) o contínuo crescimento, amadurecimento, aprendizado, enriquecimento de capacidades e expansão de poderes que Deus tem em estoque para eles. O remido deseja todas estas coisas, e sem elas sua felicidade não pode ser completa. Mas no céu não haverá desejos insatisfeitos.

Haverá diferentes graus de bem-aventurança e recompensa no céu. Todos serão abençoados até o limite do que possam receber, mas as capacidades serão variáveis de acordo com o que fazem neste mundo. Quanto às recompensas (uma área em que a irresponsabilidade atual pode trazer permanente perda futura: 1 Co 3.10-15), dois pontos precisam ser entendidos. O primeiro é que, quando Deus recompensa nossas obras, Ele está coroando seus próprios dons, pois foi somente pela graça que aquelas obras foram realizadas. O segundo é que a essência da recompensa em cada caso será acima do que os cristãos mais desejam, ou seja, um aprofundamento de sua relação de amor com o Salvador, que é a realidade para a qual aponta toda a imagética bíblica de coroas honoríficas, roupas e festas. A recompensa é semelhante à do namoro, com o enriquecimento da relação do mesmo amor por meio do casamento.

Assim, a vida na glória celestial compreende ver Deus em e por meio de Cristo e ser amado pelo Pai e pelo Filho, descansar (Ap 14.13) e trabalhar (7.15), louvar e adorar (7.9,10; 19.1-5), e comunhão com o Cordeiro e seus santos (19.6-9).

E essa vida não cessará (Ap 22.5). Sua eternidade é parte de sua glória; a continuidade infinita, podemos dizer, é a glória da glória.

Os corações na terra dizem no curso de uma jubilosa Experiência: “Quero que isto nunca termine”. Mas, invariavelmente, termina. Os corações dos que estão no céu dizem: “Quero que isto dure para sempre.” E durará. Não pode haver melhor notícia que esta