3 de mar. de 2020

A Visão Beatífica. (R. C. Sproul)


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Há uma história sobre um menino que lutava com ideia de Deus que estava aprendendo com seus pais. O que o incomodava mais era que lhe diziam que Deus é invisível. Como poderia adora e servir um Deus a quem não podia ver? Ele aprendera o ditado que dizia, "fora da vista, fora da mente".Frustrado com a teologia do Deus invisível, o garoto gritou: " Eu quero um Deus tenha pele!"

Talvez o desejo por um Deus com pele seja um dos fatores que impelem a humanidade à idolatria. Ídolos de pedra e de madeira, embora sejam totalmente surdos e mudos e totalmente incapazes de prestar qualquer ajuda, pelo menos são visíveis. São um substituto designado para satisfazer o desejo que nossos olhos têm de contemplar a majestade de Deus.

Paulo escreveu que a humanidade é culpada pro mudar a gloria do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível (Rm 1.23) e por "mudar a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém" (Rm 1.25).

Os discípulos também expressaram o desejo de ver diretamente a face de Deus. Eles também eram afetados pela invisibilidade evasiva de Deus. Quando Jesus se reuniu com os discípulos no Cenáculo para Última Ceia, Filipe disse: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta" (Jo 14.8). Filipe falou por todos os crentes. Nossa expectativa seria totalmente suprida por um único olha na face desvendada de Deus. Vê-lo em seu santo esplendor seria suficiente. Satisfaria nossa alma e acalmaria nosso espírito agitado.

Se Jesus alguma vez demonstrou aborrecimento ou impaciência com alguma pergunta dos discípulos, foi com esta. Ele replicou. "Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (Jo 14.9).

Logo no começo do seu ministério terreno Jesus pronuncio o Sermão do Monte, começando com as Bem-Aventuranças. Ali ele proferiu sua bênção sobre os puros de coração, com a promessa de que veriam a Deus. O fato de Deus não poder presentemente ser visto em sua glória e que permanece invisível aos nossos olhos tem sido um peso para os seres humanos que almejam ver aquele que é o objeto de devoção e amor. Desde o tempo em que bloqueou o acesso ao Jardim do Éden colocando à porta um anjo com uma espada flamejante na mão, Deus determinou que nenhum ser humano poderia vê-lo abertamente. Mesmo a Moisés, que pediu para ver sua glória, Deus respondeu: "A minha face não se verá" (Ex 33.23).

Os remidos anseiam pelo momento quando poderão olhar além do véu e contemplar diretamente a pureza do esplendor de Deus. A razão pela qual não podemos contemplar agora não é devido à deficiência dos nossos olhos, mas por causa da falta de pureza no nosso coração. Quando formos glorificados no céu e nosso coração for purificado iremos experimentar a alegria indizível de poder contemplá-lo como ele é em sua gloria.

A visão beatífica é chamada assim devido à promessa da visão de Deus que leva consigo a benção suprema da alma humana. A benção mais elevada sobre Israel era:"O Senhor te 2 abençoe e te guarde; O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz." (Nm 6.24-26).

João nos promete que embora a maioria das coisas que nos esperam no céu esteja em mistério, de uma coisa podemos estar certos: "... seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos." (1 Jo 3.2).

Esta promessa nos assegura que no céu Deus irá revelar-se a nós de uma maneira que irá além da teofania (manifestação externa da glória de Deus, como na sarça ardente). A visão transcenderá a visão da sarça ardente ou da coluna de nuvem. Veremos mais do que uma representação ou uma imagem refletida. Nós o veremos "como ele é". Poderemos, de alguma maneira, mirrar a sua própria essência. Então, não haverá necessidade de pele.