28 de fev. de 2020

Indo além dos limites. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


"Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (At 1:8)

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O livro de Atos dos Apóstolos traz, em seu primeiro capítulo, o relato sobre os últimos dias de Jesus com os discípulos antes da ascensão (At.1.1-8). Esse foi um período de transição. Lucas já havia escrito um tratado endereçado a Teófilo. Seu primeiro livro relata os fatos concernentes ao ministério terreno de Jesus até ser assunto aos céus. Agora, Lucas retoma a narrativa a partir desse ponto para comunicar a Teófilo o início e o desenrolar de uma nova fase da ação divina entre os homens. O período dos evangelhos foi o tempo marcado pela ação e ensino de Jesus (At.1.1). O novo tempo haveria de se caracterizar pela ação dos apóstolos, movidos pelo Espírito Santo. No capítulo 1 de Atos, estão registradas as palavras de Jesus anunciando essa nova realidade. No versículo 5, ele menciona o batismo nas águas como experiência que os discípulos já possuíam e anuncia o batismo no Espírito Santo como fato iminente e necessário.

Hoje temos consciência da singularidade daquele momento histórico. Era chegada a hora de estabelecer a Igreja. Era tempo de avançar, crescer, invadir o território dominado pelo inimigo e tomar posse da vitória conquistada no Calvário. Não obstante, notamos, pelo texto, que os discípulos não estavam sintonizados com este propósito. Perguntaram ao Mestre: "Restaurarás neste tempo o reino a Israel ?" Tal questionamento estava totalmente fora do contexto, mas serve para avaliarmos a distância entre a visão dos discípulos e o objetivo de Jesus.

- Os discípulos estavam preocupados com o reino de Israel. Jesus estava discorrendo sobre o Reino de Deus (v.3 e 6).

- A expectativa dos discípulos se limitava a uma nação – Israel. O reino anunciado por Jesus alcançaria os confins da terra – todas as nações (v. 6 e 8).

- O reino reclamado pelos discípulos tinha, sobretudo, uma conotação política. O Mestre se referia a um reino essencialmente espiritual.

- Os discípulos estavam focalizados em seu tempo presente. Jesus anunciava um projeto cuja execução alcançaria os nossos dias e os vindouros.

Observamos que os apóstolos estavam totalmente presos em seus limites. Esse é o retrato de muitos cristãos atuais, que mantêm sua experiência espiritual amarrada pelo egoísmo e pelo materialismo. Jesus estava mostrando que era hora de ir além.
Vemos isso no versículo 8. Era preciso entrar no "mover do Espírito": realizar a obra em Jesuralém, percorrer o restante da Judéia, ir a Samaria e até aos confins da terra. O tempo da igreja é o tempo de ir além dos limites que nós mesmos impomos à operação de Deus. Tais limitações podem ser geográficas, como mostra o texto, mas também sociais, religiosoas, etc.

- Deus quer nos usar em Jerusalém. Este é o lugar onde estamos. Diz respeito aos recursos de que dispomos e as capacidades que já possuímos. Esse é o ponto de partida. Não é o fim da trilha, como muitos querem.

- É preciso percorrer a Judéia. Nesse ponto, notamos a idéia de movimento. É o fim da inércia. É o rompimento do primeiro limite. Deus não está limitado ao que ele já fez em nossas vidas. Existem outros níveis a alcançar. Não podemos ficar parados em nossa experiência espiritual.

- Em seguida, os apóstolos deveriam alcançar Samaria. Ordem difícil essa! Eles não gostariam de ir até lá. Judeus e samaritanos não se comunicavam. Se Jesus não citasse nominalmente essa cidade, provavelmente os discípulos a teriam negligenciado no anúncio do evangelho. Esse era um limite difícil de ser transposto: o limite do preconceito, a barreira social e religiosa. Samaria é o lugar onde não queremos ir, mas faz parte do roteiro divino. Essa cidade representa o que não queremos fazer, mas foi ordenado por Deus. É tempo de romper este limite e realizar o que o Senhor quer.

- Depois de Samaria, deveriam ser atingidos os confins da terra. Estes representam os lugares e experiências que estão além do que conhecemos e imaginamos. De acordo com a noção geográfica dos discípulos, os confins da terra não estavam muito distantes da Palestina. Todavia, Jesus se referia ao alcance da mensagem apostólica a todas as regiões que seriam descobertas mais tarde. Tudo isso nos mostra a necessidade de sermos conduzidos pelo Espírito Santo, mesmo que seja até Samaria ou ao deserto (Mt.4.1).

Estamos vivendo o tempo da igrejao ministério do Espírito Santo. É hora de irmos além dos limites que impedem a expansão do Reino de Deus. É hora de movimento, não desordenado, mas orientado pelos padrões bíblicos. Desse modo, o Senhor agirá através de nós e seremos aqueles que manifestarão ao mundo a multiforme sabedoria de Deus.