4 de jul. de 2020

As duas Graças. (Felipe Azevedo)

Neste pequeno artigo quero propor uma pequena (mas não pouco importante) distinção entre a graça que chamamos de "salvadora" e a graça "comum". Quero fazê-lo com um intuito em particular: tornar claro que toda e qualquer manifestação de justiça humana provém de Deus.

A importância dessa distinção é clarear aquela velha e pertinente questão: se um não cristão, ou até ANTI cristão, manifesta aquela justiça requerida aos cristão, isso não seria uma prova de sua aceitação perante Deus? Ou ainda: se alguém que não frequenta a igreja, não ora, não participa dos sacramentos, enfim, não é alguém assumidamente religioso, mas pratica as mesmas obras por outros motivos, não teria este a mesma aceitação diante do tribunal de Deus?

Bem, respondendo de maneira enfática as perguntas, a resposta é NÃO. Vamos às justificativas e uma breve explicação de cada uma destas "graças". 

Em primeiro lugar a graça comum. Chamamos esta benevolência divina de "comum" no sentido de que ela se manifesta "a todos os homens indistintamente". A bondade divina de fato alcança todos os homens de várias formas. Afinal de contas, toda a justiça, misericórdia, generosidade, amor, compaixão fluem de onde? Antes destas virtudes terem qualquer grau de influência no coração humano, elas vêm naturalmente do alto. Assim ensina Tiago: 

Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.

Portanto, Deus sempre é o maior interessado em promover o bem nos homens e entre os homens. Não há do que se gloriar diante de Deus. Através de leis, governos, arte, literatura, a natureza, a sabedoria contida na natureza, enfim, tantas quantas são possíveis de imaginar, são as formas ordinárias pelo qual Deus manifesta este zelo pela verdadeira justiça e bondade, apesar da resistência e violação humana.

Por vezes vemos homens se vangloriando destas virtudes como se partisse de nós mesmos tais coisas, quando na verdade o que é próprio da humanidade em geral, quando unidos ou em particular, é a manifestação da maldade. O que nós vemos constantemente é a violação da ordem natural e daquela moral intrínseca plantada por Deus no homem. Tudo o que é bom, portanto, em nós, provém dEle, e para Ele deveria ser oferecido em louvor e gratidão.

Por outro lado, quando tratamos da graça "salvadora", queremos dizer uma manifestação da misericórdia que nem todos os homens vem a experimentar. Esta graça é oferecida a todos, mas derramada sobre os fiéis. A Bíblia diz: "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha vida eterna" (João 3:16). Esta graça produzirá no homem a natureza de Deus a partir do seu Espírito. Uma graça de dentro para fora. Extraordinária. Reproduzindo o caráter de Deus no homem caído. Passamos a "gerar" essa graça através de Cristo. É um recomeço.

Veja que há algumas semelhanças entre estas duas graças. Primeiro, ambas fluem de Deus para o homem. Segundo, procuram o bem do homem, a comunhão e o louvor de Deus. Terceiro, não dão espaço para vanglória humana; se na comum não havia, muito menos na salvadora. Porém, existem algumas diferenças fundamentais entre elas. Primeiro, como já dissemos, na comum todos os homens desfrutam, na salvadora apenas os fiéis. Segundo, na graça comum Deus abençoa por meio da ordem natural deste mundo, na salvadora por meio da Palavra, do Filho e do Espírito Santo. Terceiro, na graça comum os homens manifestam virtudes naturais, insuficientes para justifica-los; na salvadora, os fiéis manifestam o fruto do Espírito, evidências da justificação pela fé.

Portanto, um homem pode desfrutar da graça comum de Deus durante toda sua vida, sem desfrutar da graça salvadora. A maioria de nós somos como o "filho pródigo", usamos as riquezas do Pai para nosso próprio deleite, desperdiçando todas as bençãos de ordem natural com o pecado. Quando somos alcançados pela graça salvadora em Jesus, passamos não somente a usufruir de maneira espiritual a graça comum, mas experimentamos a "vida eterna", que não tem um sentido primário de "quantidade de vida", mas sim de "qualidade de vida". Uma vida reconciliada com Deus. Um relacionamento vivo e verdadeiro.

Precisamos buscar essa graça salvadora para podermos verdadeiramente usufruir da aceitação e comunhão com Deus. Para verdadeiramente ver a existência com a ótica divina. E isso somente é possível por meio do Filho de Deus, que nós dá o seu Espírito. Creia hoje, viva eternamente. 

29 de jun. de 2020

Salmos 2. (W. Wiersbe)

O Salmo 1 enfatiza a lei de Deus, enquanto o Salmo 2 concentra-se na profecia. As pessoas no Salmo 1 se comprazem com a lei, mas as pessoas do Salmo 2 desafiam a lei. O Salmo 1 começa com uma bem-aventurança e o Salmo 2 termina com uma bem aventurança. 

O Novo Testamento não cita o Salmo 1 em momento algum, mas cita ou faz mais alusões ao Salmo 2 do que a qualquer outro salmo - usando-o em pelo menos dezoito ocasiões (ver Mt 3:17; 7:23; 17:5; Mc 1:11; 9:7; Lc 3:22; 9:35; Jo 1:49; At 4:25, 26; 13:33; Fp 2:12; Hb 1:2, 5; 5:5; Ap 2:26, 27; 11:18; 12:5; 19:1 5). Trata-se de um salmo messiânico, assim como os Salmos 8, 16, 22, 23, 40, 41, 45, 68, 69, 102, 110 e 118. Para que um salmo seja considerado messiânico, ele deve ser citado no Novo Testamento com referência a Jesus (Lc 24:27, 44). No entanto, o Salmo 2 também é um salmo real, pois trata da coroação de um rei de Israel e da rebelião de algumas nações vassalas que desejavam se libertar. Os Salmos 18, 20, 21, 45 (um casamento real), 72, 89, 101, 110 e 144 também são salmos reais. De acordo com Atos 4:25, este salmo foi escrito por Davi, de modo que é possível ser decorrente dos acontecimentos relatados em 2 Samuel 5:17-25, 8:1-14 e 10:1-19.

Israel foi governado diretamente pelo Senhor, por meio de profetas e de juízes, até que a nação pediu um rei (1 Sm 8). O Senhor sabia que isso aconteceria (Gn 17:6, 16; 35:11; Nm 24:7, 1 7) e fez todos os preparativos (Dt 17:14-12). Saul não foi escolhido para fundar uma dinastia, pois o rei viria da tribo de Judá (Gn 49:10), e Saul era da tribo de Benjamim. Davi era o homem que Deus havia escolhido para instituir a dinastia que, a seu tempo, daria ao mundo o Messias (2 Sm 7). Porém, o Salmo 2 e 2 Samuel 7 vão muito além de Davi e de seus sucessores, pois tanto a aliança quanto o salmo falam de um reino universal e de um trono estabelecido para sempre - um reinado que só pode se cumprir em Jesus Cristo, o Filho de Davi (Mt 1:1). Alguns salmos são feitos para serem vistos (114, 130, 133), outros, para serem sentidos (22, 129, 137, 142), mas este é para ser ouvido, pois é o registro de quatro vozes. 

1. Conspiração - A voz das nações (S l 2:1-3). Ao fazer essa pergunta, Davi não espera uma resposta, pois na realidade não existe resposta. Trata-se, antes, de uma expressão de admiração: "Ao pensar em tudo o que o Senhor fez pelas nações, como foram capazes de rebelar-se contra ele!" Deus havia suprido suas necessidades básicas (At 14:15-17), guiado, guardado com vida e enviado um Salvador para oferecer perdão e vida eterna (At 1 7:24-31; ver Dn 4:32). No entanto, desde a torre de Babel (Gn 11) até a crucificação de Cristo (At 4:21-31) e o Armagedom (Ap 19:11 ss), a Bíblia registra as rebeliões tolas e inúteis da humanidade contra a vontade do Criador. Os reis e outros governantes menores formam uma conspiração para romper os vínculos que o Senhor havia estabelecido para o próprio bem deles. Vemos aqui o retrato de um animal obstinado e enfurecido, tentando romper as amarras que prendem o jugo a seu corpo (Jr 5:5; 27:2). 

Porém, suas tentativas são fúteis (vãs), pois a liberdade verdadeira só pode ser encontrada quando nos sujeitamos a Deus e fazemos a sua vontade. Liberdade sem autoridade é anarquia, e a anarquia é destrutiva. Certa vez, vi uma pichação que dizia: "Toda autoridade destrói a criatividade!" Que tremenda asneira! É justamente a autoridade que libera e desenvolve a criatividade, quer seja a de um músico, de um atleta ou de um cirurgião. Sem a sujeição à autoridade da verdade e da lei, é impossível haver criatividade verdadeira. O teólogo inglês P. T. Forsythe escreveu: "A primeira obrigação de toda alma não é encontrar sua liberdade, mas sim seu Senhor". Porém, essas nações não estão se rebelando contra "Deus" num sentido abstrato; estão desafiando o Messias, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A única coisa sobre a qual essas nações concordam entre si é: "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19:14). O termo "Messias" vem de uma palavra hebraica que significa "ungir"; o equivalente em grego é "Cristo". No Antigo Testamento, costumava-se ungir os reis (1 Sm 10:1; 2 Rs 11:12) e também os profetas (1 Rs 9:16) e sacerdotes (Êx 28:41). Jesus disse que o mundo o odiava e que também odiaria aqueles que o seguissem (Jo 7:7, 15, 18, 19, 24, 25; Mt 24:9; Lc 21:1 7). O verbo "levantar", no versículo 2, significa "preparar-se para a guerra". As conseqüências dessa rebeldia contra o Senhor e seu Cristo são descritas em Romanos 1:18 ss e não são nada agradáveis. 

2. Zombaria - A voz de Deus, o Pai (S l 2:4-6). A cena tranquila no céu é um contraste e tanto com a cena turbulenta na terra, pois Deus não está preocupado nem com medo dos homens insignificantes que se enfurecem contra ele. Simplesmente ri deles com menosprezo (37:8-13; 59:1-9). Afinal, para Deus, até os maiores governantes não passam de grama a ser cortada; as nações mais poderosas são apenas gotas num balde (Is 40:6-8, 12-1 7). Nos dias de hoje, Deus está falando às nações em sua graça e as está chamando a crer em seu Filho. Um dia, porém, Deus lhes falará em sua ira e enviará julgamentos terríveis sobre o mundo (Ap 6 - 19). Se as pessoas não aceitarem o julgamento de Deus pelo pecado na cruz e crerem em Cristo, terão de aceitar o julgamento de Deus sobre si próprias e seus pecados. 

Foi Deus quem deu o trono em Sião a Davi e foi Deus quem lhe deu vitórias subsequentes em suas batalhas contra os inimigos de Israel. No entanto, isso tudo é apenas o retrato de uma coroação ainda maior: Deus declara que existe apenas um verdadeiro Rei, seu Filho, que se encontra assentado no trono de glória (Mc 16:19; 1 Co 15:25; Ef 1:19-23). Jesus Cristo é Rei e Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5:5, 6: 7:1 ss). Hoje, Israel não tem rei (Os 3:4), mas há um Rei entronizado na cidade celestial de Sião (Hb 12:22-24). É impossível compreender a mensagem desse salmo sem identificar nele a presença de Jesus Cristo: sua morte (vv. 1-3, At 4:23-28), sua ressurreição (v. 7, At 13:33), sua ascensão, sua entronização em glória (v. 6), sua volta e seu reino de justiça sobre a Terra (vv. 8, 9, Ap 2:9, 27; 12:5). 

3. Vitória - A voz de Deus, o Filho (Sl. 2:7-9). Quem fala agora é o Rei entronizado, e ele anuncia o que o Pai lhe disse. A declaração "Proclamarei o decreto" informa os rebeldes de que Deus governa sobre sua criação por meio de decretos soberanos. Não pede um consenso nem faz uma votação. Os decretos de Deus são justos (7:6), e ele nunca erra. De acordo com Atos 13:33, o versículo 7 refere-se à ressurreição de Cristo, quando foi "gerado" da sepultura e surgiu em glória (ver Rm 1:4; Hb 1:5 e 5:5). No antigo Oriente Próximo, os reis eram considerados filhos dos deuses, mas Jesus Cristo é, verdadeiramente, o Filho de Deus (ver 89:26, 27; 2 Sm 7:14). No batismo de Jesus, o Pai fez alusão ao versículo 7 e anunciou que Jesus era o seu Filho amado (Mt 3:1 7; Mc 1:11; Lc 3:22). 

O Pai prometeu ao Filho vitória absoluta sobre as nações, o que significa que, um dia, ele governará sobre todos os reinos do mundo. Satanás lhe ofereceu essa honra em troca de sua adoração, mas Jesus recusou (Mt 4:8-11). O governo de Cristo será justo, porém firme, e se as nações lhe fizerem frente, ele as esmagará como vasos de barro. Na antiguidade, antes de sair para a batalha, os reis do Oriente costumavam participar de um ritual no qual se quebravam vasos de barro que simbolizavam o exército inimigo, garantindo, desse modo, a ajuda dos deuses para derrotá-los. Jesus não precisa desses rituais tolos, pois esmaga o inimigo completamente (Ap 19:11 ss; Dn 2:42-44). Jesus é Deus, Jesus é Rei e Jesus é Conquistador. 

4. Oportunidade - A voz do Espírito Santo (Sl. 2:10-12). Diante do decreto do Pai e do julgamento prometido, bem como da entronização vitoriosa do Filho no céu, a coisa mais sábia a fazer é se entregar a Cristo e crer nele. Hoje, o Espírito de Deus fala à humanidade e roga aos pecadores que se arrependam e se voltem para o Salvador. 

Observe que, nos versículos 10 e 11, o Espírito fala primeiro aos reis e líderes e depois, no versículo 12, se dirige a "todos", instando-os a crer no Filho. O Espírito começa seu apelo com os líderes mundiais, pois estes devem prestar contas a Deus pela forma como governam o mundo (Rm 13). Um dos principais motivos de o povo estar enfurecido contra Deus é que toda essa gente foi incitada por seus líderes. São ignorantes, pois seguem a sabedoria deste mundo e não a sabedoria que vem de Deus (1 Co 1:18- 31). Orgulham-se daquilo que pensam saber, mas na verdade não sabem coisa alguma sobre as verdades eternas. Como podem aprender? O versículo 10 aconselha: "Deixai-vos advertir" pela Palavra de Deus, sendo que o verbo advertir, nesse caso, também pode significar "instruir". Quanta bondade do Senhor salvar os pecadores antes de revelar sua ira! 

Uma vez que o Espírito instruiu a mente, apela para a vontade e chama os rebeldes a servir ao Senhor e a deixar seus pecados (v. 11). Os verdadeiros cristãos sabem o que significa ter um coração cheio de temor e, ao mesmo tempo, de alegria. O amor pelo Senhor lança fora todo o medo pecaminoso (1 Jo 4:18), mas aperfeiçoa o temor piedoso. Amamos nosso Pai, mas, ainda assim, respeitamos sua autoridade. O terceiro apelo é dirigido ao coração e pede amor submisso pelo Rei. No mundo antigo, os governantes vassalos demonstravam submissão a seu rei beijando a mão ou a face dele. Judas beijou Jesus no jardim, mas foi um gesto sem qualquer significado verdadeiro. Trata-se aqui do beijo da submissão e, até mesmo, da reconciliação. O Espírito encerra com uma palavra de advertência e uma palavra de bênção. A advertência é que esse Rei amoroso também pode irar-se e revelar seu santo furor súbita e inadvertidamente (1 Ts 5:1-4). O tema da ira é relacionado ao Pai (v. 5) e ao Filho (vv. 9, 12).5 

O Salmo 1 começa com a designação "bem-aventurado", e o Salmo 2 encerra com a bem-aventurança prometida a todos os que creem no Filho de Deus, promessa que continua em vigor (Jo 3:16-18; 20:31).

27 de jun. de 2020

Uma palavra aos Adolescentes. (Felipe Azevedo)

A unidade na diversidade

Já pensou como seria se todos fôssemos iguais? A bem da verdade, não existem iguais na natureza. Por exemplo, geneticamente falando, nem duas folhas de uma mesma árvore que sejam da mesma cor, formato e tamanho são iguais. Deus criou cada coisa para ser única. O que temos em comum com o restante da criação é uma só coisa – a marca do Criador.

Perceba que o objetivo de Deus ao criar todas as coisas é a Sua glória (Ef 1:3-14). Há um universo dentro de cada homem onde Deus deseja ser glorificado, além da adoração em conjunto, onde temos comunhão uns com os outros através Dele. A construção dessa identidade, dessa particularidade, acontece ao mesmo tempo em comunhão interna com Deus, e externa com a Igreja de Deus (Sl 122:1).

Quando essa particularidade, pessoalidade, é canalizada para glória de Deus, então ela transforma o mundo ao seu redor, ela contribui para o crescimento do corpo, para a beleza do templo de Deus – a Igreja. Assim como no AT cada um contribuiu para a construção do tabernáculo com algum bem que possuía, nós também devemos usar nossos dons, talentos, força e vida para a glória do Senhor (Ex 35:20-29).

Como você, sendo um adolescente pode crescer e contribuir para essa grande obra que Deus está realizando? Sendo você mesmo em Deus. Não esperamos que um adolescente seja mais do que é, mas sim que viva essa fase na plenitude de comunhão com Deus. Cada fase tem suas características próprias, e esta tem como especial circunstancia exatamente essa construção do EU. Quem eu sou? O que faz de mim este alguém? O que posso ou devo ser no futuro? Estas respostas devem ser buscadas em Deus, caso contrario serão respondidas por alguém no mínimo desqualificado para tamanha tarefa. Quem dá identidade é o Pai.

Deus é alguém extremamente belo e criativo. Quem teria mais autoridade do que Ele para construir alguém único e pleno em nós? Nem mesmo nosso próprio coração é apto para guiar nossa alma nas melhores decisões e exemplos (Jr 17:9). Essa vida que flui do Espírito de Deus dentro dos filhos de Deus (Jo 3), deságua em todas as etapas e circunstancias da vida terrena e porvir! Porque beber do poço da religião vazia e legalista, quando podemos ter em nosso interior a fonte de água viva que jorra para a vida eterna?

Por fim, temos algo a pensar ainda. Deus como Pai, tem muitos filhos, e os ama a todos igualmente. Isso nos torna iguais diante Dele. Alguns filhos são mais íntimos do Pai. Essa é uma escolha, um prazer pessoal. Uma coisa é certa, quanto mais próximos de Deus somos, mais unidos entre nós. Mais nos tornamos plenos, completos. Podemos ser uma benção onde quer que vivamos ou estejamos, porque não vivemos para nós mesmos, vivemos para a gloria de Deus e o crescimento das pessoas, a unidade viva, em amor.

26 de mai. de 2020

Salmo 1 (Warren Wiersbe).

O editor que colocou esta preciosidade no começo de Salmos agiu com sabedoria, pois as palavras desse cântico indicam o caminho para a bênção e advertem sobre o julgamento 
divino - dois temas freqüentes nos Salmos.

As imagens desse salmo lembram o leitor dos ensinamentos anteriores do Antigo Testamento. Em Gênesis, vemos pessoas caminhando com Deus (5:21, 24; 6:9; 1 7:1), o rio que dá vida (2:10-14) e também árvores e frutos (2:8-10). A lei do Senhor relaciona o salmo ao êxodo por meio de Deuteronômio. Ser bem-sucedido pela meditação dessa lei e obediência a ela nos faz lembrar Josué 1:8. O salmo apresenta dois caminhos: o da bênção e o do julgamento; e Israel deveria escolher um deles (Dt 30:1 5, 19). Jesus usa uma imagem semelhante (Mt 7:13, 14). A história da Bíblia parece desenvolver-se em torno do conceito de "dois homens": o "primeiro Adão" e o "último Adão" (Rm 5; 1 Co 15:45) - Caim e Abel, Ismael e Isaque, Esaú e Jacó, Davi e Saul - e chega a seu ápice em Cristo e o Anticristo. Dois homens, dois caminhos, dois destinos. 

O Salmo 1 é um salmo de sabedoria e trata da Palavra de Deus, das bênçãos de Deus sobre aqueles que meditam sobre essa Palavra e lhe obedecem e do julgamento final de Deus sobre os rebeldes. Os salmos de sabedoria também lidam com o problema do mal no mundo e a questão de Deus permitir a prosperidade dos perversos que rejeitam sua lei. Os outros salmos de sabedoria são: 10, 12, 15, 19, 32, 34, 37, 49, 50, 52, 53, 73, 78, 82, 91, 92, 94, 111, 112, 119, 127, 128, 133 e 139. Apesar deste primeiro salmo retratar dois caminhos, na verdade descreve três pessoas diferentes e como se encontram relacionadas às bênçãos do Senhor. 

1. A PESSOA QUE RECEBE UMA BÊNÇÃO DE DEUS (S l 1:1, 2) A aliança de Deus com Israel deixava claro que ele abençoaria a obediência e julgaria a desobediência (Lv 26; Dt 28). O termo "bem-aventurado" é "asher", nome de um dos filhos de Jacó ("Aser"; Cn 30:12). Trata-se de um termo plural: "O, as alegrias! Ó, as bem-aventuranças!" A pessoa descrita nesse salmo cumpria os pré-requisitos e, portanto, era abençoada por Deus. Se desejamos as bênçãos de Deus, também precisamos preencher certas condições. Devemos ser dirigidos pela Palavra (v. 1). Israel era um povo singular e separado; estava no meio das nações, mas não devia ser contaminado por elas (Nm 23:9; Êx 19:5, 6; Dt 32:8-10; 33:28). O mesmo se aplica ao povo de Deus hoje: estamos no mundo mas não somos do mundo (Jo 17:11-17). Devemos nos guardar de ter amizades com o mundo (Tg 4:4) que nos levem a ser maculados por ele (Tg 1:27) e até mesmo a amar o mundo (1 Jo 2:1 5-1 7). O resultado será a conformação com o mundo (Rm 12:1, 2) e, se não nos arrependermos, seremos condenados com o mundo (1 Co 11:32). Ló olhou em direção a Sodoma; em seguida, levantou sua tenda voltada para Sodoma e não tardou a mudar-se para lá (Gn 13:10-12; 14:12). Apesar de ser um homem salvo (2 Pe 2:7, 8), Ló perdeu tudo o que tinha quando o Senhor destruiu as cidades da planície (Gn 18 - 19; 1 Co 3:11-23). E aos poucos que mudamos para uma situação de pecado e de desobediência (ver Pv 4:14, 15 e 7:6ss). Se seguirmos os conselhos errados, ficaremos com as companhias erradas e, por fim, nos assentaremos com as pessoas erradas. Quando Jesus foi preso, Pedro não seguiu o conselho de Cristo para que fugisse do jardim (Mt 26:31; Jo 16:32; 18:8). Em vez disso, seguiu Jesus e entrou no pátio do sacerdote. Lá, ele ficou com os inimigos (Jo 18:15-18) e, por fim, se assentou com eles (Lc 22:55).Em decorrência disso, negou Cristo três vezes. Os "ímpios" são pessoas deliberada e persistentemente perversas; os "pecadores" são aqueles que erram os alvos determinados por Deus, mas não se importam com isso; os "escarnecedores" fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado (ver Pv 1:22; 3:24; 21:24). Quando rir das coisas sagradas e desobedecer às leis se torna uma forma de entretenimento, é porque, de fato, as pessoas chegaram ao fundo do poço. Devemos ter prazer na Palavra (v. 2). Passamos do aspecto negativo, no versículo 1, para o positivo. O prazer na Palavra e a meditação sobre a Palavra devem andar juntos (119:15, 16, 23, 24, 47, 48, 77, 78), pois pensamos sobre aquilo que nos dá prazer, e essas são as coisas que buscamos. No hebraico, "meditar" significa "dizer em voz baixa e suave", pois é o que os judeus ortodoxos fazem quando leem as Escrituras, meditam e oram. A Palavra de Deus está em sua boca (Js 1:8). Se falarmos com o Senhor sobre a Palavra, a Palavra falará conosco sobre o Senhor. E isso o que significa "permanecer" na Palavra (1 Jo 2:14, 24). Como povo de Deus, devemos preferir a Palavra aos alimentos (119:103; Jó 23:12; Jr 15:17; Mt 4:4; 1 Pe 2:2), ao sono (1 19:55, 62, 147, 148, 164), às riquezas (1 1 9:1 4, 72, 1 27, 1 62) e aos amigos (1 19:23, 51, 95, 1 19). A maneira de tratarmos a Bíblia é a maneira de tratarmos Jesus Cristo, pois a Bíblia é a Palavra dele para nós. No original, os verbos do versículo 1 encontram-se no tempo perfeito e se referem a um modo de vida determinado, enquanto no versículo 2, "meditar" está no tempo imperfeito e indica uma prática consoante. "Ele fica meditando".

2. A PESSOA QUE É UMA BÊNÇÃO (Sl 1:3) Deus nos abençoa para que possamos abençoar a outros (Cn 12:2). Se as bênçãos ficam conosco, as dádivas tornam-se mais importantes do que o Doador, e isso é idolatria. Devemos nos tornar canais das bênçãos de Deus para outros. É uma alegria receber uma bênção, mas alegria maior ainda é ser uma bênção. "Mais bem-aventurado é dar do que receber" (At 20:35). A imagem da árvore aparece com freqüência nas Escrituras e simboliza tanto um reino (Ez 17:24; Dn 4; Mt 13:32) quanto um indivíduo (52:8; 92:12-14; Pv 11:30; Is 44:4 e 58:11; Jr 17:5-8; Mt 7:15-23). Balaão considerou o povo de Israel "como cedros junto às águas" (Nm 24:6). Assim como uma árvore, a pessoa temente a Deus é cheia de vida, beleza e frutos e é proveitosa e duradoura. A parte mais importante de uma árvore são suas raízes que ficam dentro do solo e retiram dele a água e os nutrientes. Assim também, a parte mais importante da vida de um cristão são suas "raízes espirituais", que se alimentam dos recursos ocultos que possuímos em Cristo (Ef 3:17; Cl 2:7). É isso o que significa "permanecer em Cristo" (Jo 15:1-9). Nas Escrituras, a água potável é uma figura do Espírito de Deus (Jo 7:37-39; 1 Co 10:4), enquanto a água para se lavar retrata a Palavra de Deus (Sl 119:9; Jo 15:3; Ef 5:26). A sede de água é uma imagem da sede de Deus (42:1; 63:1; 143:6; Mt 5:6; Ap 22:17), e, com freqüência, um rio retrata a provisão divina de bênçãos espirituais e de ajuda para seu povo (36:8; 46:4; 78:16; 105:41; Êx 17:5, 6; Nm 20:9-11; Ez 47; Ap 22:1, 2). Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta; precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual. Uma das fontes de energia é a meditação na Palavra (v. 2); as outras são a oração e a comunhão com o povo de Deus. Como escreveu Alexander Maclaren: "A religião não tem volume nem profundidade, pois não é alimentada por mananciais ocultos". As árvores podem secar e morrer, mas aquele que permanece em Cristo mantém-se sempre verde e dá muitos frutos (ver 92:12-14). Os "frutos" se referem aqui a várias bênçãos: ganhar pessoas para Cristo (Rm 1:13), ter um caráter piedoso (Rm 6:22, Cl 5:22, 23), contribuir financeiramente para a obra do Senhor (Rm 1 5:28), servir e realizar boas obras (Cl 1:10) e louvar ao Senhor (Hb 13:15). É triste quando um cristão não dá atenção a suas raízes e começa a secar. Lembre que a árvore não come os frutos: eles são para outros. Também não podemos esquecer que frutos não são a mesma coisa que "resultados", pois os frutos têm dentro de si as sementes para mais frutos. São decorrentes da vida de Deus fluindo por nós. O justo descrito nos versículos 1 a 3 é, sem dúvida, um retrato de Jesus Cristo, que, de acordo com João 14:6, é o caminho (v. 1), a verdade (v. 2) e a vida (v. 3). 

3. A PESSOA QUE PRECISA DE UMA BÊNÇÃO (Sl 1:4-6) A primeira metade do salmo descreve uma pessoa temente a Deus, enquanto a segunda metade concentra-se nos ímpios - aqueles que os cristãos elevem procurar alcançar com o evangelho. Como essas pessoas precisam conhecer a Deus e receber suas bênçãos em Cristo! 

As Escrituras descrevem os perversos de várias maneiras, sendo que, nesse caso, a imagem usada é a da palha. Ao contrário dos justos, que são como árvores, os ímpios são mortos, sem raízes, espalhados por toda parte e destinados ao fogo. A palha não tem valor algum. Quando os grãos são selecionados, o vento leva a palha embora e toda a palha que ainda resta é queimada. João Batista usou essas mesmas imagens de árvore, fruto e palha para advertir os pecadores e chamá-los ao arrependimento (Mt 3:7-12). Os perversos deste mundo parecem ricos e fortes, mas do ponto de vista de Deus, são desprezíveis, frágeis e destinados ao julgamento. (Ver Sl 73.) Não é de se admirar que Jesus usasse o depósito de lixo do lado de fora de Jerusalém (conhecido como sehena) como uma figura do inferno, pois era lá que os restos sem valor iam para o fogo (Mc 9:43-48). A palha fica muito próxima dos grãos, mas no final, os dois são separados, e a palha é levada pelo vento ou queimada. Até que isso aconteça, porém, temos a oportunidade de testemunhar aos ímpios e de levá-los para Cristo. Quando o dia do julgamento chegar, o Senhor, o Justo Juiz, separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum incrédulo poderá reunir-se com os justos. 

O verbo conhecer, no versículo 6, não quer dizer que Deus está apenas ciente da existência dos justos em nível intelectual e que se lembra deles. Antes, significa que os escolheu e que os guardou providencialmente, conduzindo-os, por fim, a sua glória. Como no caso de Amós 3:2, o termo conhecer é usado com o sentido de "escolher, entrar numa relação de aliança, ter um relacionamento pessoal". No dia do julgamento final, Jesus dirá aos perversos: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7:23). Este salmo começa com a ideia de ser "bem-aventurado" e encerra com o conceito de ser "destruído". Os verdadeiros cristãos são abençoados em Cristo (Ef 1:3ss). Receberam a bênção de Deus e podem ser uma bênção para outros, especialmente para a palha que um dia será lançada ao fogo. Esforcemo-nos para ganhar o máximo de pessoas para Cristo.

6 de mai. de 2020

O ateísmo é justificável? (Felipe A. Pereira)

"Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam a iniquidade" (Salmos 53:1-2a)
Grande parte do suposto Ateísmo existente não parte de alguém convicto intelectualmente da inexistência de Deus, baseado em evidências científicas e argumentos filosóficos profundos. Até porque poucos avançam a este nível de pensamento (se é que seja possível alcança-lo).
A esmagadora maioria desse ateísmo prático é simplesmente uma justificativa para continuar pecando sem ser atingido pelo agudo senso de juízo. Afinal de contas, sem um Deus que exija a justiça e a bondade, estamos livres para afrouxar e até exinguir, se possível, os mais elevados ideais de bondade e amor que Deus estabeleceu e fixou em nossa alma.
Mas ainda alguém poderá dizer: de que adianta perseguir estes ideais divinos se não os posso alcançar? Não estaremos de igual forma aquém da justiça requerida? Este alguém tem toda razão. Este seria um argumento ateísta ou puramente cético mais nobre eu diria, porém não justificado também. Isto porque o Evangelho que revela Jesus Cristo como a justiça de Deus para todo aquele que crê, torna toda forma de escape ineficaz. Veja o que Jesus disse:

"Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á" (Mateus 16:25)

Portanto, não se trata mais, no que diz respeito à justiça necessária, do que podemos fazer ou alcançar, mas sim, do que Jesus fez e alcançou como homem. Ele viveu perfeitamente e se tornou nosso novo representante (em lugar de Adão), e morreu nos substituindo para remover nossa sentença diante de Deus. A vida e morte de Jesus foram aceitas por Deus, e como sinal de aprovação, Ele ressuscitou! Glória a Deus.

O que nos resta agora é a escolha: Continuamos vivendo nossas vidas em Adão, debaixo de maldição. Ou abandonamos essa forma de vida para abraçar, pela fé, a vida em Jesus. Adão está condenado, nada pode fazer por si mesmo. Jesus ressuscitou, provando que é Senhor da vida e da morte! Faça sua escolha.

20 de abr. de 2020

O Perdão. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


O perdão é, basicamente, a dispensa do pagamento de uma dívida. Esse é o sentido mais natural e aplica-se no caso em que o devedor não tem como pagar e depende da misericórdia do credor. Logo, o perdão significa que não haverá mais cobrança, nem castigo. A Bíblia estende essa ideia para os pecados, as ofensas, como sendo também dívidas. Nossos pecados contra Deus ou contra outras pessoas, são dívidas espirituais que deveriam ser pagas. O pecado é tudo aquilo que prejudica, ou seja, causa prejuízos de vários tipos (morais, físicos, espirituais, materiais). Seria então necessário reparar esse prejuízo, ou compensá-lo de alguma forma. Aí está a ideia da dívida. Mas, como poderíamos pagar nossa divida diante de Deus? Somos devedores que não têm como pagar. A nossa salvação é que alguém pagou nossa dívida (Colossenses 2.13-14). A morte de Jesus teve exatamente esse objetivo. Como o pecado poderia ser pago? Pela morte do pecador. Porém, Jesus se colocou no lugar dos pecadores e morreu no lugar deles. O que nos resta fazer então? Nada de tentar compensar os pecados através de boas obras, (embora elas devam ser praticadas por outros motivos). Nada de auto-flagelo e penitências. Estaríamos, assim, desprezando a obra de Jesus. O que precisamos é:

1) Reconhecer os nossos pecados.
2) Arrepender. Arrependimento é mudança de rumo. É uma decisão de passar a agir diferente.
3) Confessar os pecados (I João 1.9).
4) Pedir o perdão divino.


Se Deus, tão graciosamente, nos perdoou, devemos também perdoar aqueles que nos ofendem. Se não perdoarmos, também Deus não nos perdoará (Mateus 6.12,14,15). Se Deus é bom para conosco, não podemos ser maus para os nossos irmãos e nem para os nossos inimigos (Mateus 18.15-34 Mateus 5.44-45). Pedro perguntou quantas vezes por dia ele deveria perdoar ao seu irmão. Jesus disse: "setenta vezes sete". Vemos então que não devemos ECONOMIZAR o perdão. A ausência do perdão, a mágoa, o ressentimento, fazem mais mal ao ressentido do que ao que pecou. Manter a mágoa no coração é como segurar uma brasa na mão. O estrago pode ser grande. A falta de perdão, o ódio, pode causar até doenças. Por outro lado, a pessoa que não foi perdoada, fica, de alguma forma, presa espiritualmente.

Como dissemos, não temos como pagar nossa dívida para com Deus. Entretanto, se o nosso pecado contra o irmão envolver um prejuízo material, devemos ressarci-lo, pagar o prejuízo, se isso for possível (Lucas 19.8 Êxodo 22.1). E, assim como pedimos perdão a Deus, devemos também pedir às pessoas ofendidas. Se, porém, o ofendido já tiver falecido, isso não será impedimento para que Deus nos perdoe, desde que haja arrependimento. (Exemplo: Davi e Urias).

Muitas vezes, pode parecer difícil perdoar. O sentimento é difícil de ser controlado, principalmente em caso de pecados graves, em caso de crimes. Porém, o mais importante é a nossa VONTADE e não o nosso sentimento. Reconhecendo que devemos perdoar, devemos orar dizendo: "Senhor, eu perdoo aquela pessoa, em nome de Jesus". Os sentimentos podem não corresponder no momento, mas isso é uma decisão e não uma emoção. Precisamos declarar o perdão. Se perdoarmos em uma atitude de decisão, com o tempo os sentimentos encontrarão os seus devidos lugares.

19 de abr. de 2020

Éfeso: A igreja descuidada. (Warren W. Wiersbe - Comentário Bíblico Expositivo)


Cada uma das sete mensagens começa com uma descrição pessoal ou designação de Jesus Cristo proveniente da visão do Senhor apresentada em Apocalipse 1 (no caso de Éfeso, ver Ap 1:12, 16, 20). A congregação de Éfeso havia tido líderes "estelares" - Paulo, Timóteo e o próprio apóstolo João mas o Senhor lembra seus membros que ele está no controle de seu ministério, colocando as "estrelas" onde lhe convém. Como é fácil a igreja tornar-se orgulhosa e se esquecer de que os pastores e mestres são dádivas de Deus (Ef 4:11) que podem lhe ser tomadas a qualquer momento. Algumas igrejas precisam ser advertidas a adorar ao Senhor, não ao pastor! 

Aprovação (w. 2, 3, 6). Quanta bondade do Senhor começar com essas palavras de elogio! Em primeiro lugar, esta era uma igreja que servia, trabalhando com zelo na obra do Senhor. Sem dúvida, sua agenda semanal era repleta de atividades. Também era uma igreja que se sacrificava, pois o termo "labor" significa "trabalhar até a exaustão". Os cristãos efésios pagavam um preço para servir ao Senhor. Eram uma congregação firme, pois o termo "perseverança" significa "resistência em meio às tribulações". Não desistiam diante da adversidade. 

A igreja de Éfeso era separada, pois examinava com cuidado os ministros que a visitavam (ver 2 ]o 7-11) para determinar se eram verdadeiros. Paulo havia advertido os presbíteros de Éfeso de que falsos mestres surgiriam vindos de fora e até mesmo do meio da igreja (At 20:28-31), e João os havia instruído a "[provar] os espíritos" (1 Jo 4:1-6). A igreja deve estar sempre alerta para detectar e rejeitar os ministros falsos de Satanás (2 Co 11:1-4, 12-15). 

Os cristãos de Éfeso separavam-se não apenas de doutrinas falsas, mas também de obras falsas (Ap 2:6). A forma verbal do termo nicolaita significa "conquistar o povo". Alguns estudiosos da Bíblia acreditam que se tratava de uma seita que "mandava" na igreja, privando o povo de sua liberdade em Cristo (ver 3 Jo 9-11) e que iniciou o que conhecemos hoje como a divisão entre o "clero" e os "leigos", uma falsa divisão não ensinada em parte alguma do Novo Testamento. Todo o povo de Deus é "sacerdócio real" (1 Pe 2:9; Ap 1:6) e tem o mesmo acesso ao Pai por meio do sangue de Jesus Cristo (Hb 10:19 ss). Veremos essa seita perigosa novamente ao estudar a mensagem para a igreja de Pérgamo. 

Os cristãos de Éfeso eram um povo sofredor, que suportava pacientemente seus fardos e labutava sem esmorecer. E faziam tudo isso por amor ao nome do Senhor! Ao examinar essa congregação de vários ângulos diferentes, ela parece perfeita. No entanto, Aquele que estava entre os candeeiros via o coração dos efésios, e, portanto, seu diagnóstico é diferente do nosso. 

Acusação (v. 4). Essa igreja ocupada, separada e disposta a se sacrificar sofria de "problemas amorosos" - os efésios haviam abandonado seu primeiro amor! Apresentavam "obras [...] labor [...] perseverança" (Ap 2:2), mas essas qualidades não eram motivadas pelo amor a Cristo (comparar com 1 Ts 1:3- "da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança"). O que fazemos para o Senhor é importante, mas o motivo pelo qual o fazemos também importa! 

O que é o "primeiro amor"? É a devoção a Cristo que caracteriza, com freqüência, o recém-convertido: fervorosa, pessoal, desinibida, empolgada e demonstrada abertamente. É o amor da "lua-de-mel" de um casal (ver Jr 2:1, 2). Apesar de ser verdade que o amor conjugal maduro torna-se cada vez mais profundo e rico, também é verdade que nunca deve perder a empolgação e o fascínio dos primeiros dias de lua-de-mel. Quando o marido e a esposa deixam de dar o devido valor um ao outro e a vida se torna rotineira, o casamento corre perigo. 

É possível servir, sacrificar-se e sofrer "por causa do meu nome" e, no entanto, não amar Jesus Cristo verdadeiramente! Os cristãos de Éfeso estavam tão ocupados mantendo sua separação que deixaram de lado a adoração. O trabalho não substitui o amor; a pureza não substitui o fervor. A igreja precisa tanto de uma coisa quanto de outra a fim de agradar ao Senhor. 

Ao ler a epístola de Paulo aos efésios, há pelo menos vinte referências ao amor. Também se vê que Paulo enfatiza a posição exaltada do cristão "em Cristo [...] nos lugares celestiais". Mas a igreja de Éfeso havia caído e não vivia à altura de sua posição exaltada em Cristo (Ap 2:5). Só é possível servir a Cristo fielmente amando-o sincera e fervorosamente (Ef 6:24). 

Admoestação (vv. 5-7). O "primeiro amor" pode ser recuperado se forem seguidas as três instruções que Cristo dá. Em primeiro lugar, é necessário lembrar (literalmente, "continuar lembrando") o que foi perdido e cultivar o desejo de restabelecer a comunhão íntima. Em seguida, é preciso arrepender-se - mudar de ideia - e confessar os pecados ao Senhor (1 Jo 1:9). Em terceiro lugar, deve-se voltar à pratica das primeiras obras, o que indica a restauração à comunhão inicial, rompida pelo pecado e pela negligência. Para o cristão, isso significa orar, ler a Bíblia e meditar sobre ela, servir em obediência e adorar. 

Apesar dos privilégios que havia desfrutado, a igreja de Éfeso corria o risco de perder a luz! Por mais correta que seja sua doutrina, a igreja que perde o amor logo perde também a luz. "Venho a ti" (Ap 2:5) não é uma referência à volta de Cristo, mas sim à vinda de seu julgamento naquele momento e naquele lugar. Hoje, a cidade gloriosa de Éfeso não passa de um montão de pedras onde não brilha mais luz alguma. 

Apocalipse 2:7 deixa claro que os cristãos individuais dentro da igreja podem ser fiéis ao Senhor, a despeito das atitudes de outros. Nestas sete mensagens, os "vencedores" não são uma "elite espiritual", mas sim verdadeiros cristãos, cuja fé lhes deu vitória (1 Jo 5:4, 5). O homem pecador foi banido para longe da árvore da vida (Gn 3:22-24), mas, em Cristo, há vida eterna e abundante (Jo 3:16; 10:10). Desfruta-se essa bênção agora, e o será também, mais plenamente, na eternidade (Ap 22:1-5). 

A igreja de Éfeso era uma "igreja descuidada", constituída de cristãos descuidados que negligenciaram o amor por Cristo. Será que não fazemos o mesmo? 

A justiça no reino de Deus. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


A palavra justiça tem várias aplicações. Vamos destacar dois sentidos deste termo que consideramos de grande relevância: Justiça significa retidão, ou seja, característica de algo que corresponde ao padrão. Por exemplo: O que é uma "roupa justa"? É aquela que tem a medida exata. Não falta tecido, nem sobra. Nesse caso , o corpo é o padrão, ou modelo. A justiça diante de Deus é viver de acordo com a vontade dele, sem sobrar nem faltar. Difícil, não é? Entretanto, este é o nosso alvo. Devemos viver buscando "em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça". ( Mt 6.33). Devemos estar sempre buscando agir da melhor forma possível, sem jamais desistir. Nunca devemos achar que o pecado seja uma coisa normal e aceitável.

Outro sentido da palavra justiça é: dar a cada um o que, por direito, lhe cabe. É o que Jesus mandou: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". (Mt. 22.21). Justiça é dar a cada pessoa a recompensa devida pelo seus atos, sejam eles bons ou maus. Recompensar alguém pelos seus atos bons é algo que todos podem fazer (mas raramente fazem). Por outro lado, retribuir a alguém pelos seus atos maus pode ter ainda outros nomes: disciplina, castigo, ou vingança. Em se tratando de convívio social, estamos impedidos, pelas leis civis, de exercer esse tipo de justiça. Esta é uma das principais funções do Estado através do Poder Judiciário.

No âmbito espiritual, esse tipo de justiça é exercido por Deus. Hoje, Sua justiça se manifesta através das conseqüências, boas ou más, que recebemos por nossas ações. Para fechar todas as pendências, a Bíblia nos aponta um dia futuro em que acontecerá o Juízo Final, quando cada um de nós comparecerá diante de Deus para receber a devida recompensa pelos seus atos. Naquele dia, só se salvarão aqueles que tiveram suas injustiças purificadas pelo sangue de Jesus e passaram a viver para a sua glória.

16 de abr. de 2020

Beleza espiritual. (Prof. Anísio Renato de Andrade)



A beleza é uma característica que o ser humano busca e tenta manter. Todos querem apresentar uma boa aparência, ter uma casa bonita, um carro bonito, etc. Um dos requisitos para que algo fique bonito é combinar com outros elementos que o circundam. A mulher quer usar um cinto que combine com a bolsa; um anel que combine com o outro. O homem quer uma camisa que combine com a calça. Se não combinar, não fica bem.

Também na Bíblia encontramos essa preocupação. Porém, com ênfase em outros elementos. Vejamos alguns exemplos:

O louvor combina com aqueles que têm uma vida reta - Salmo 32.11 e 33.1.

Não fica bem um ímpio falando a Palavra de Deus - Salmo 50.16.

Jóia de ouro em focinho de porca não é bonito, assim como não fica bem a beleza física e a loucura reunidas na mesma pessoa - Provérbios 11.22.

Por isso, não se deve dar as coisas santas aos cães, nem as pérolas aos porcos - Mateus 7.6. 

Da mesma forma, não fica bem o jugo desigual, a comunhão da luz com as trevas ou a mistura do santo com o profano. II Coríntios 6.14-18.

A palavra certa combina com o tempo certo, assim como combinam maças de ouro com bandejas de prata - Provérbios 25.11.

Paulo disso que as contendas, as brigas, não convém aos servos de Deus, mas que a mansidão é bem adequada para nós. II Timóteo 2.24.

Em Provérbios 31.4 está escrito: "Não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte". Enquanto que as pessoas comuns podiam beber, os reis e os príncipes não deveriam fazê-lo (apesar de sempre fazerem). O hábito de consumir bebida forte não é nobre. Um rei precisa estar sempre sóbrio, lúcido, para exercer bem as suas atividades. Não fica bem encontrar um rei, ou príncipe, bêbado pelas ruas. Não combina.

Da mesma maneira, nós cristãos somos príncipes, filhos do Rei. Somos nobres. Devemos então examinar nossas ações, nosso modo de falar, nosso modo de viver. O que é bom ou normal para os ímpios nem sempre fica bem para nós. Não combina. Está escrito: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém.." I Coríntios 6.12.

Não fica bem encontrar um cristão caindo pela vida. Somos nobres. Precisamos estar sempre de pé e, se cairmos, que seja de joelhos diante do nosso Deus.

Que o Senhor nos perdoe pelas vezes em que nos esquecemos de nossa linhagem real e que ele nos ajude a viver de modo digno da vocação com que fomos chamados. Esta é uma questão de beleza espiritual.

14 de abr. de 2020

Jesus - A exata expressão do Pai. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


Durante toda a história do Velho Testamento, Deus veio se revelando à humanidade. Foram leis, profecias e fatos históricos que mostraram ao mundo um pouco da personalidade divina. Contudo, Deus é ilimitado e não pode ser plenamente percebido através de palavras ou fatos. Por isso, o Verbo se faz carne (Jo.1.14). Deus tomou forma humana e se apresentou pessoalmente à humanidade. Jesus é a manifestação do próprio Deus com o objetivo de salvar o homem.

O Velho Testamento anuncia a vinda de Cristo. O Novo Testamento apresenta Cristo. Ele deve ser nosso exemplo, o alvo de nossa adoração e o centro de nossa atenção. Não haveremos que consultar os astros, nem fazer orações aos anjos. Não daremos atenção aos santos. Não utilizaremos imagens, nem objetos que representem a divindade. Não precisamos de pirâmides, gnomos, duendes ou amuletos. Tudo isso perde o seu suposto valor diante da grandeza e da suficiência absoluta de Jesus Cristo. Só ele nos conduz ao Pai e à vida eterna.

Jesus disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida . Ninguém vem ao Pai senão por mim."(Jo.14.6). Com isso, Cristo anulou completamente a possibilidade de um ecumenismo universal. Qualquer caminho religioso ou filosófico pode levar o homem para o inferno. Só a conversão a Cristo e a obediência à sua vontade podem garantir a entrada no Reino de Deus. Jesus é o nome que está sobre todo nome. Diante dele todo joelho se dobrará e toda língua confessará que ele é o Senhor. Aleluia!

O reino eterno. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


Estamos condicionados ao início e ao fim das coisas. Convivemos com limitações temporais: nascimentos e mortes; inaugurações e encerramentos; estréias e despedidas; etc. Entretanto, a Bíblia nos apresenta um conceito diferente: eternidade. Ela nos diz que Deus é eterno e que o homem, a partir de sua criação, também é eterno. Isso mesmo! Apesar de ter uma vida terrena temporária, o ser humano tem uma alma que jamais deixará de existir. 

Depois de encerrar suas atividades no planeta terra, a alma humana irá, após o Juízo Final, para seu lugar eterno, com Deus ou com o Diabo. Tais afirmativas são fundamentais ao cristianismo. É por causa da eternidade que o evangelho é pregado. A preocupação de Deus não é com a medida de conforto ou posses que porventura tenhamos neste mundo, mas com a nossa condição no "mundo" futuro, no "mundo" eterno.

O reino de Deus, ou o domínio de Deus, não terá fim. Ele reina hoje e continuará a reinar por toda a eternidade. O Senhor nos oferece um lugar de honra no seu reino celestial. No entanto, a escolha pelo reino de Deus significa renúncia aos reinos deste mundo. Se nos apegarmos às coisas terrenas, aos prazeres terrenos, ao ponto de deixarmos de fazer a vontade divina, estaremos abraçando os reinos deste mundo e rejeitando o reino de Deus. 

O próprio Senhor Jesus foi tentado a tomar esta atitude. Satanás lhe mostrou os reinos do mundo e quis fazer um "negócio" com ele, dizendo: "Tudo isso te darei, se, prostrado, me adorares" (Mt. 4.9). Se Jesus se deixasse levar, poderia ganhar toda a glória terrena, mas estaria abandonando sua missão de estabelecer o reino de Deus. Observe, que o Diabo quer nos ver prostrados, caídos, diante dele. Esta não é a posição de um cristão. O Inimigo só nos oferece vantagens passageiras, benefícios ilusórios, vãos e fugazes. O preço desta mísera mercadoria é muito alto: nossa própria alma. Por outro lado, o nosso Deus nos oferece vida eterna, glória eterna e uma posição de honra no seu reino celestial. O preço por tudo isso foi o sangue de Jesus, vertido na cruz do Calvário. Qual será a sua opção ? Rejeite as ofertas de Satanás hoje para não se arrepender por toda a eternidade.

13 de abr. de 2020

O tema preferido de Jesus. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


O Reino de Deus é o tema que envolve o ministério de Cristo, principalmente quando o examinamos nos escritos de Mateus.

- No seu nascimento, Jesus foi chamado, pelos magos, de Rei dos Judeus (Mt.2.2).

- Ao iniciar o seu ministério público, Jesus saiu anunciando o Reino. Ele dizia: "Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus" (Mt.4.17). A sua mensagem recebeu o nome de "evangelho do reino" (Mt.4.23 Mt.24.14).

- Quando ensinou os discípulos a orar, Jesus enfatizou o Reino: "Venha o teu reino e seja feita a tua vontade" (Mt.6.10).

- Ao enviar os discípulos em sua primeira missão, Jesus ordenou que este devia ser também o tema de sua mensagem: "Pregai que está próximo o reino dos céus" (Mt.10.7).

- Muitas das parábolas de Jesus tinham o Reino de Deus como ponto central. Em Mateus 13, o Mestre profere diversas parábolas. Cada uma ensina a respeito de um aspecto do reino.

- O próprio governador Pilatos reconheceu que Jesus era o Rei dos judeus, apesar de não ter compreendido o sentido espiritual do Reino (Mt. 27.11).

- No alto da cruz de Cristo foi escrito : "Este é Jesus, o Rei dos Judeus" (Mt. 27.37).

Por quê o Reino de Deus foi o tema preferido de Jesus? Porque este foi o objetivo de sua vinda à terra: estabelecer o Reino de Deus entre os homens. Jesus disse: "Para isso eu nasci e vim ao mundo" (João 18.37). É verdade que Jesus cura, resolve nossos problemas e pode nos dar bênçãos materiais diversas, mas nada disso é o seu objetivo principal. Seu propósito é estabelecer o Reino de Deus em nós e isto é um modo de vida. Viver no Reino é evitar o pecado, é fazer a vontade de Deus. Jesus viveu assim e nos deu o exemplo. Que o Reino de Deus seja também o nosso tema preferido e o objetivo principal das nossas vidas. Para isso nascemos, pelo Reino devemos viver e até por ele morrer, se preciso for.

12 de abr. de 2020

O pequeno começo. (William Barclay)


A planta de mostarda da Palestina é muito diferente da que nós conhecemos. Se queremos ser exatos, a semente de mostarda não é a menor das sementes. A semente do cipreste, por exemplo, é menor. Mas no Oriente a pequenez da semente de mostarda era algo proverbial. Os judeus falavam, por exemplo, de uma gota de sangue tão pequena como um grão de mostarda. Se falavam sobre uma pequena violação da lei cerimonial, referiam-se a uma violação tão pequena como uma semente de mostarda. O próprio Jesus empregou a frase nesse sentido quando comparou a fé a um grão de mostarda (Mateus 17:20). 

Na Palestina, esta pequenina semente de mostarda crescia até transformar-se em algo muito semelhante a uma árvore. Em "The Land and the Book", Thomson escreve: "Na rica pradaria do Akkar vi esta planta alcançar o tamanho do cavalo e seu cavaleiro." "Com a ajuda de meu guia", "arranquei uma verdadeira árvore de mostarda que tinha mais de três metros." 

Nesta parábola não há nenhum exagero. Além disso, era muito comum ver estes arbustos ou árvores de mostarda rodeados por uma nuvem de pássaros, visto que gostam muito das pequenas sementes negras da árvore e posam nela para comê-las. Assim, pois, Jesus disse que seu Reino era como a semente de mostarda, que se transforma em uma árvore. O sentido da parábola é tão claro como a água. O Reino dos céus começa desde o princípio mais ínfimo, mas ninguém sabe onde terminará. Na linguagem do Oriente e no próprio Antigo Testamento, uma das representações mais comuns de um grande império era a imagem de uma árvore muito grande com as nações submetidas simbolizadas por pássaros que procuram repouso e refúgio em seus ramos (Ezequiel 31:6). De maneira que esta parábola nos diz que o Reino dos céus começa do menor dos começos mas que, no final, muitas nações se reunirão nele. É uma realidade histórica que as maiores coisas começam a partir das coisas menores. 

(1) Uma ideia que pode chegar a mudar a civilização pode começar com um homem. No Império Britânico, William Wilberforce foi o responsável pela libertação dos escravos. A ideia da libertação lhe ocorreu quando leu uma exposição sobre o tráfico de escravos escrita pelo Thomas Clarkson. Era íntimo amigo do Pitt, o primeiro-ministro. Um dia estava sentado com o Pitt e George Greenville no jardim de Pitt, em Hollywood. Era uma cena muito bonita, com o Vale de Keston que se abria frente a eles, mas os pensamentos do Wilberforce não estavam nas belezas do mundo mas em suas manchas. De repente Pitt se voltou para ele e lhe disse: "Wilberforce, por que não apresenta um relatório sobre uma moção sobre o tráfico de escravos?" A idéia ficou semeada na mente de um homem, e essa ideia mudou a vida de milhares e milhares de pessoas. A ideia deve encontrar um homem para poder possuí-lo. Mas quando uma ideia encontra um homem começa uma corrente que não se pode deter com nada. 

(2) Um testemunho deve começar com um homem. Cecil Northcott, relata em um de seus livros a forma em que um grupo de jovens discutia sobre o modo em que devia propagar o evangelho. Falavam sobre a propaganda, a literatura, e todos os métodos que se podiam empregar para disseminar o evangelho no século vinte. Então falou a moça que vinha da África: "Quando queremos enviar o cristianismo a uma de nossas aldeias não lhes enviamos livros", disse. "Levamos uma família cristã para viver na aldeia e convertem a aldeia ao cristianismo pelo mero fato de viver nela." Em qualquer grupo ou sociedade, em qualquer escola ou fábrica, loja ou escritório mais de uma vez aconteceu que o que fez chegar o cristianismo ao grupo foi o testemunho de um indivíduo. O homem ou a mulher que está inflamado de amor por Cristo é quem acende a faísca em outros. 

(3) Uma reforma começa com uma pessoa. Uma das grandes histórias da Igreja cristã é a de Telêmaco. Telêmaco era um ermitão no deserto mas algo lhe disse – o chamado de Deus – que devia ir a Roma. Foi a Roma. Em teoria esta cidade era cristã mas continuavam celebrando-as lutas entre gladiadores nas quais os homens lutavam entre si e as multidões desfrutavam ao ver o sangue correr. Telêmaco se encaminhou para as lutas. Havia oitenta mil pessoas presentes. Sentiu-se horrorizado. Acaso estes homens que se matavam entre eles não eram também filhos de Deus? Saltou de seu assento na arena e ficou de pé em meio dos gladiadores. Empurraram-no para um lado. Voltou. A multidão ficou irada e começou a lhe lançar pedras. Voltou a ficar entre os gladiadores com dificuldade. Ouviu-se a ordem do prefeito; brilhou o aço de uma espada e Telêmaco morreu. E de repente se fez silêncio; de repente a multidão percebeu o que tinha acontecido, um homem santo jazia morto. Algo aconteceu em Roma nesse dia, porque não houve mais luta entre gladiadores. Um homem só tinha produzido algo por meio de sua morte que limpou o pecado do império. Alguém deve começar uma reforma; não é necessário que comece em uma nação, pode começá-la em sua casa ou em seu lugar de trabalho. Começada essa reforma, ninguém sabe onde pode terminar. 

(4) Mas esta foi uma das parábolas mais pessoais que Jesus proferiu. Em algumas ocasiões seus discípulos devem ter-se sentido desesperados. Seu grupo era tão pequeno e o mundo era tão imenso. Como poderiam chegar a triunfar e transformar o mundo? Entretanto, algo entrou neste mundo junto com Jesus. Hugh Martin cita H. G. Wells: "Sem dúvida é a figura dominante na história... Um historiador sem nenhuma inclinação teológica precisa descobrir, forçosamente, que não pode mostrar o progresso da humanidade de modo honesto se não der um lugar de destaque ao mestre sem um centavo de Nazaré." 

Nesta parábola, Jesus diz a seus discípulos, assim como a seus seguidores de todos os tempos, que não devem desiludir-se, que cada um deve servir e dar testemunho em seu lugar, que cada um deve ser o pequeno começo a partir do qual cresce o Reino até que todos os reinos da Terra se transformem afinal no Reino de Deus. 

Quem é Jesus para você? (Prof. Anísio Renato de Andrade)


Deus amou o mundo (e isto inclui você), e por isso enviou Jesus Cristo ao encontro da humanidade. Sua vinda à terra foi um marco definitivo e indelével na história. Todo ser humano está agora comprometido de alguma forma com a pessoa de Cristo. Não adianta querer ignorá-lo. De fato, só existem duas atitudes possíveis em relação a ele : aceitação ou rejeição. Em outras palavras, compromisso ou oposição. Nesse caso, não existe neutralidade. Quem ainda não aceitou a Cristo, já o tem rejeitado.

Meditemos um pouco em alguns versículos bíblicos : "A pedra que os edificadores rejeitaram, tornou-se a pedra angular." (Lucas 20.17). "Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa; e quem nela puser sua confiança não será confundido. Para vós, portanto, que tendes crido, cabe a honra. Mas, para os incrédulos... pedra de tropeço." (I Pedro 2.6-8). Na primeira citação, o próprio Jesus fala de si mesmo, comparando-se a uma pedra. No segundo texto, o apóstolo Pedro se refere a Cristo, comparando-o também a uma pedra que foi rejeitada pelos edificadores. De fato, a história nos mostra que Jesus veio e foi assassinado pelos religiosos e governantes da época. No entanto, Deus o constituiu como pedra angular, ou seja a principal sustentação daqueles que nele crêem. Contudo, para os que o rejeitam, Cristo se torna pedra de tropeço.

Aqueles que não forem salvos por Cristo serão condenados por ele. A Bíblia nos mostra que Jesus é hoje um advogado, pronto para receber todos os pecadores que, arrependidos, queiram o perdão (I João 2.1). Porém, um dia ele virá à terra como um justo juiz para julgar os vivos e os mortos. Aí então, não haverá mais misericórdia.

Decida-se hoje. Rogue a Deus pelo perdão dos seus pecados e por uma vida diferente, de compromisso e comunhão com Cristo. Assim, quando ele voltar, você poderá recebê-lo de braços abertos. Não precisará se esconder, pois todos os seus pecados já estarão purificados. Daí em diante, seguir-se-á a vida eterna ao lado do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

11 de abr. de 2020

A manifestação do reino de Deus. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


Em seus ensinamentos, Jesus falava sempre sobre o Reino de Deus. Muitos que o ouviram pensavam que o assunto era de cunho político e perguntavam sobre quando e como se manifestaria tal reino. A um desses questionamentos, Jesus respondeu: "O Reino de Deus não vem com aparência exterior, nem dirão ei-lo aqui ou ei-lo ali, porque o Reino de Deus está dentro de vós." (Lc. 21.17.18).

Assim, Jesus mostrou como ocorre a manifestação do reino de Deus: de dentro para fora. Antes que a vontade de Deus seja feita no mundo e o seu domínio alcance as nações, isto deve ocorrer dentro de nós. Isto significa atitudes, sentimentos e pensamentos moldados de acordo com a vontade de Deus.

Devemos tomar cuidado para que o cristianismo em nossas vidas não seja apenas aparência. Jesus chamou os fariseus de "sepulcros caiados", que, por fora, são bem cuidados mas, por dentro, estão cheios de podridão. Aqueles religiosos gostavam de orar em público, mas não oravam em casa. Se os nossos atos religiosos são praticados nas reuniões da igreja, mas em casa não oramos, não lemos a Bíblia, não louvamos a Deus, isto significa que temos aparência de cristãos mas a nossa essência é questionável.

Paulo advertiu Timóteo sobre pessoas que teriam aparência de zelo espiritual, mas, intimamente, estariam cultivando males terríveis, como o ódio, o egoísmo e a soberba (2 Tm.3.1-6).

O Reino de Deus começa dentro de nós, libertando nossos corações de todo mal.

7 de abr. de 2020

Liberdade espiritual. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


"Estai pois firmes na liberdade com que Cristo vos libertou e não tornai a meter-vos debaixo do jugo da servidão." (Gálatas 5.1).

O apóstolo Paulo fez essa advertência aos cristãos da Galácia. Se fomos libertos por Cristo, se ele nos libertou das mãos de Satanás, se ele nos livrou de tantos males, a Palavra de Deus nos alerta para que não nos escravizemos novamente. Precisamos manter nossa liberdade espiritual.

Algumas vezes temos a tristeza de saber que algumas pessoas abandonaram a fé, retornando a uma vida de pecado. Tornaram-se novamente escravas do diabo. Isso pode parecer incrível, mas o próprio Jesus disse que os demônios que dominavam alguém podem voltar trazendo outros com eles (Lucas 11.24-26). O último estado dessas pessoas torna-se pior do que o primeiro.

Na história do povo de Israel, notamos períodos de cativeiro que se revezavam com atos divinos de libertação. Observe o que diz o Salmo 126, versículos 1 e 4: "Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltavam a Sião, estávamos como os que sonham... Torna a trazer-nos do cativeiro, Senhor..." O povo já havia sido liberto, mas caiu novamente nas mãos do inimigo.

Façamos uma retrospectiva bíblica da história de Israel: O povo esteve cativo no Egito durante 430 anos. Deus o libertou. Chegando em Canaã, os países vizinhos se revezaram para explorar e abater os israelitas. O livro dos Juízes nos mostra uma sucessão de opressões e libertações. Mais tarde, a Assíria levou uma parte dos israelitas para o cativeiro. Depois, a Babilônia escravizou as tribos restantes. Passados os 70 anos de cativeiro babilônico, Deus libertou o seu povo novamente.

Vemos que Israel viveu entre cativeiros e libertações. Esta, porém, não era a vontade do Senhor para eles, e também não é para nós. Deus não quer que os que hoje são libertos por ele voltem amanhã dizendo: "liberta-nos de novo!" Por quê essas derrotas aconteciam? Devido ao pecado dos israelitas, principalmente por causa da idolatria (Salmo 106.34-45).

Como podemos manter nossa liberdade espiritual e não cair nas mãos do inimigo?

Em primeiro lugar, é preciso compromisso com Deus. Qualquer pessoa pode ser liberta ou receber uma benção. Entretanto, se essa pessoa não assume um compromisso de ser um cristão, os demônios voltarão a dominá-la. É por isso que muitas pessoas caem endemoninhadas todas as vezes que comparecem a um culto.

Em segundo lugar, é preciso vigilância. Para nos escravizar, o diabo nos oferece alguma coisa. Vejamos alguns exemplos: Depois de conseguir a libertação para o seu povo, Gideão foi derrotado pela tentação das riquezas materiais (Juízes 8.24-27). Sansão, por sua vez, foi derrotado pela prostituição com Dalila que, depois de descobrir seu segredo, cortou-lhe os cabelos (Juízes 16.1,19).

Podemos ver que Satanás usa a estratégia de acordo com a fraqueza de cada pessoa. Precisamos ficar vigilantes e recusar as propostas que nos chegam de todos os lados buscando nossa queda. Depois que Sansão foi derrotado, tornou-se motivo de zombaria no templo dos filisteus. O desejo do inimigo é nos ver caindo e sendo motivo de escarnecimento. O desejo de Deus, entretanto, é que nos mantenhamos livres, vencedores e assim possamos ajudar na libertação de outras pessoas.

5 de abr. de 2020

Avivamento. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


Na carta à igreja de Éfeso, o Senhor Jesus diz: "Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência... Trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste... Tenho porém contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te de onde caíste e arrepende-te." (Apocalipse 2.2-5). 

Aqueles irmãos tiveram um início glorioso em sua experiência com Deus. A epístola de Paulo aos Efésios nos dá a entender que aquela igreja não era problemática, como a de Corinto por exemplo. Os efésios eram espirituais, entusiasmados e abençoados no princípio.

Contudo, o tempo passou e algo mudou. Aparentemente, tudo estava como antes: as obras continuavam a todo vapor. A igreja de Éfeso era muito ativa e trabalhadora. Entretanto, a essência estava comprometida. Havia muito trabalho e pouco amor; muita atividade humana e pouca unção do Espírito.

Veio então a palavra do Senhor com o objetivo de avivar a sua igreja. E o que é avivamento? É renovação. É reanimar. É dar vida. Avivamento não é sinônimo de barulho, música agitada, palmas e gritos. Tudo isso pode, eventualmente, ocorrer em nossos cultos, mas o avivamento legítimo é o resgate de valores espirituais outrora abandonados.

Seu fundamento está firmado em três fatores indispensáveis: estudo da Bíblia, oração e arrependimento. Esses elementos "movem a mão de Deus" a favor do seu povo. Esta afirmação é fiel e digna de crédito porque o Senhor está comprometido com a sua Palavra, prometeu ouvir nossas orações e não rejeita um coração contrito e arrependido (Salmo 51). Não podemos, porém, separar esses três pontos. Palavra sem oração pode resultar em intelectualismo e heresia. Oração sem arrependimento do pecado não produz nenhum efeito. E arrependimento, sem um confronto com a Palavra de Deus, é impossível, pois é a Bíblia que nos mostra nossas falhas, enquanto o Espírito Santo nos convence.

É bom lembrar o que diz em II Crônicas 7.14: "E se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."

No contexto em que esse versículo foi escrito, sarar a terra significava fazer cessar as pragas na lavoura, enviar a chuva, que estava tão escassa, e fazer com que houvesse grande produção no campo e no rebanho. Assim, a vida do povo seria beneficiada em todos os aspectos.

Isto é avivamento. Deus tira as pragas e maldições e derrama a sua bênção. Tudo começa com estudo da Bíblia, oração e arrependimento, e culmina com bênçãos sem medida. Seus principais efeitos na igreja são: renovação do nosso entusiasmo pela obra de Deus, grande número de conversões, manifestações de dons espirituais, despertamento de novos ministérios, além de bênçãos pessoais diversas.

Tudo isso é resultado do mover do Espírito Santo, que muitas vezes fica bloqueado pelos nossos pecados e pela nossa negligência.

Louvamos ao Senhor porque estamos notando a operação do Espírito de Deus em nossos dias. O resultado está aí. A obra está acontecendo. Vidas estão se convertendo e a igreja está crescendo. Meu irmão, não fique fora das águas do Espírito. O Senhor está operando. Não pensemos, porém, que o que temos visto é tudo. De modo nenhum! Isto é apenas uma pequena amostra do que Deus quer fazer no nosso meio. Vamos buscar ao Senhor cada dia mais. Assim, veremos a glória de Deus se manifestando. Aleluia! Avivamento já!

A crise das dúvidas. (Prof. Anísio Renato de Andrade)


"E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos a dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho." (Mateus 11.2-5).

João Batista foi o maior dentre os nascidos de mulher. Quem fez essa declaração foi o próprio Jesus. Contudo, o grande João duvidou de Cristo. Isso aconteceu quando ele estava preso, aguardando sua execução. Imagine-se no lugar de João Batista. Ele havia anunciado publicamente que Jesus era o Salvador. Agora, estava preso, condenado à morte, e Jesus não tomou nenhuma providência para libertá-lo. Daí surgiu a dúvida. Será que esse Jesus é mesmo o Messias prometido? Por quê então ele não me tira desta prisão?

Quando estamos passando por problemas graves e não somos atendidos pelo Senhor, muitas vezes começamos a duvidar da sua palavra ou do seu amor para conosco. De acordo com o nosso pequeno entendimento, achamos que Deus deveria agir em nosso favor desta ou daquela maneira. Porém, ele tem os seus propósitos e, na maioria dos situações, nem chegamos a conhecê-los ou entendê-los.

Talvez você esteja questionando como Gideão: "Se o Senhor é conosco, por quê tudo isso nos sobreveio?" (Juízes 6.13). Se o Senhor me ama, por quê ele não me deu isso ou aquilo? Se o Senhor está comigo, por quê ele não me livrou desse ou daquele problema? Algumas perguntas nunca terão respostas. Observe que Jesus não respondeu à pergunta de João Batista, assim como o Anjo do Senhor não respondeu à pergunta de Gideão.

O recado que Jesus mandou para João era que muitos milagres estavam acontecendo. Jesus não libertou João, mas estava curando enfermos, ressuscitando mortos e anunciando o evangelho. Saiba o seguinte: o propósito de Deus está sendo executado. Isso é o que importa. Que seja feita a vontade dele e não a nossa. Ele é o Senhor. Nós somos apenas servos. Deus tem um plano soberano e esse plano está em plena execução. Ele não está a serviço dos nossos interesses individuais, embora possa fazer todas as coisas.

Podemos clamar para que o Senhor nos livre e nos dê o que precisamos. Entretanto, devemos continuar a servi-lo ainda que ele não nos livre. (Daniel 3.17-18). Se ele não nos atender em alguma situação, é porque tem um propósito nisso. Já pensou se Deus atendesse todas as nossas orações? Não seríamos mais tentados. Não seríamos mais provados. Não teríamos nenhum tipo de problema na vida. Aliás, não precisaríamos nem ir para o céu, porque aqui já seria um lugar celestial, com direito a coral de anjos e tudo mais. Por outro lado, não teríamos o crescimento espiritual nem a maturidade que as tribulações produzem.

As dúvidas surgem quando nossas expectativas em relação ao cristianismo não se concretizam. Porém, muitas vezes essas expectativas estão erradas. É o caso de quem espera que o evangelho venha lhes trazer muito dinheiro, muita prosperidade material e a satisfação de todos os seus desejos pessoais. O propósito do evangelho é a salvação das almas. Se Deus nos dá mais alguma coisa, é "brinde".

Chegará o dia quando nossos problemas terminarão. Por enquanto, convém lembrar o que Jesus disse: "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." Sabemos, porém, que muitas vezes o Senhor nos atende, nos livra e nos proporciona momentos de refrigério para as nossas almas.

3 de abr. de 2020

Rute decide-se por Deus. (C. H. Spurgeon)


"Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus" (Rt 1:16)

Esta é uma heroica e franca confissão de fé e foi feita por uma mulher jovem, pobre, viúva e estrangeira.

I - A AFEIÇÃO PELO PIEDOSO DEVE INSPIRAR-NOS À PIEDADE
   Muitas forças se combinam para efetivar isso:
   a) Há a influência do companheirismo: devemos ser afetados por pessoas piedosas, mais do que por pessoas más, desde que nos submetemos à sua influência.
   b) Há a influência da admiração. Imitação é o mais sincero louvor; seguimos aquilo que nos favorece. Portanto, imitemos os santos.
   c) Há a influência do temor da separação. Seria horrível estarmos eternamente separados dos entes queridos que buscam nossa salvação; é doloroso, inclusive, ter de deixá-los participando da mesa do Senhor, e nós, não.

II -  AS RESOLUÇÕES PIEDOSAS SÃO PROVADAS
   a) Por implicar pagar o preço. Vocês mesmos terão de separar-se de seus amigos, como fez Rute. Terão de partilhar a sorte do povo de Deus, como Rute partilhou com Noemi (Hb 11:24,26)
   b) Pelos deveres implícitos da religião. Rute deveria trabalhar nos campos. Algumas pessoas orgulhosas não se sujeitam às normas da casa de Cristo, nem aos regulamentos da vida diária dos crentes.
   c) Pela aparente frieza dos crentes. Noemi não a persuadiu a ficar com ela, mas ao contrário. Ela era mulher prudente e não queria que Rute viesse com ela por persuasão, mas por convicção.

III - TAL PIEDADE DEVE ESTAR PRESENTE, PRINCIPALMENTE NA ESCOLHA DE DEUS
   a) Essa é a possessão distintiva do crente. "Teu Deus é o meu Deus".
   b) Seu grande artigo de fé. "Creio em Deus".
   c) Sua confiança e constância (Rt 2:12). "Este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre, ele será nosso guia até a morte" (Sl 48:14)

IV - MAS A PIEDADE DEVE IMPLICAR A ESCOLHA DE SEU POVO
   Um parente próximo está entre eles. O verdeiro Boaz está disposto a levar-nos para si próprio, e redimir a nossa herança. Façamos uma escolha deliberada, humilde, firme, alegre, imediata a favor de Deus e de seus santos, aceitando a hospedagem deles neste mundo e indo aonde quer que eles vão.

O ex-escravo convertido manifestou expressão feliz à sua decidida adesão a Cristo quando disse: "Já passei o ponto donde não se pode voltar mais. Vou direto para o meu lar no céu. E se você não me encontrar no primeiro dos doze portões lá em cima, dá uma olhada no seguinte, pois eu tenho de estar lá". Ah! Quem dera ter milhares assim, em nossas congregações; pois por falta de fé, eles nunca poderão chegar ao ponto de onde não se volta mais.

O poder do caráter cristão, que se irradia na face, no aspecto e nas palavras de um crente, está ilustrado de modo belíssimo no seguinte incidente: Um afegão, em certa ocasião, passou uma hora em companhia do Dr. William Marsh, da Inglaterra. Quando ouviu que o Dr. Marsh falecera, disse: "Sua religião agora será a minha religião; seu Deus será o meu Deus; pois devo ir para onde ele foi, e ver de novo a sua face".

Sei que seus panos de saco e cinzas são melhores do que as risadas do tolo (Rutherford).

Se o povo de Deus não se envergonhar de nós, não precisaremos envergonhar-nos deles. Eu não gostaria de ir a uma reunião pública, disfarçado de ladrão; prefiro minhas próprias roupas, e não posso entender como há crentes que podem conduzir-se com vestimentas mundanas.