13 de out. de 2018

A parábola do semeador. (por Felipe Azevedo)




''E falou-lhes de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terram e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.'' (Mateus 13:3-9)

Nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), uma parte considerável dos ensinamentos de Jesus foi através de parábolas. A parábola era um recurso didático comum na época, e literalmente significa ''por ao lado de'' ou ''em comparação à'', como a expressão usada no início de muitas delas indica:
''O reino dos céus é semelhante...'' (Mt 13:24, 31, 33, 44 etc)
 A parábola que iremos estudar nesta oportunidade - do semeador - tem uma importância singular entre as demais pregadas por Jesus, por que, segundo o Mestre, o entendimento dela servirá para compreender as outras, ou seja, ela é como uma espécie de fundamento das parábolas. O evangelho segundo escreveu Marcos é quem revela esta verdade:
''E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como pois entenderei todas as parábolas?'' (Marcos 4:13)
 Dito isso, vamos aos elementos desta parábola tão importante e suas explicações dadas por Cristo na sequência, em particular aos discípulos.

 Esta parábola têm como objetivo principal, revelar os tipos de pessoas e corações - os tipos de solo - e a relação com o recebimento da Palavra de Deus - a semente. Assim, em primeiro lugar vemos que a disposição humana em receber a Palavra é de importância fundamental para que o evangelho produza os frutos da graça de Deus no homem. Temos aqui uma revelação muito importante sobre o grande mistério da salvação, que envolve a soberana vontade de Deus e a participação humana. 

Há uma discussão profunda e antiga entre teólogos de diferentes vertentes sobre como e quem será salvo, e não tenho conhecimento suficiente para tratar profundamente deste assunto, mas segundo entendo, nesta parábola, o que Jesus ensina claramente é: existe a participação do homem, seja na salvação, seja na perdição. Não creio, porém, que essa participação na salvação seja meritória, ou seja, por uma suposta piedade praticada ou vivida pelo homem que mereça o favor divino, até porque escrevi em outros artigos neste blog que esta doutrina é contrária às Escrituras - herética. Tudo é fruto da graça, inclusive a pré-condição para receber a Palavra, e esta graça pode ser rejeitada ou resistida pelo homem, amando ele mais as trevas do que a luz, o pecado mais do que a Deus. Tais homens rejeitam todo convite de Deus para vir a Cristo e serem salvos, e por isso são culpados.

O solo à beira do caminho. Este tipo de solo tipifica o coração ''duro'', visto que este era o solo pisoteado em todo o tempo, compacto, e a semente não penetrava no mesmo, ficando exposta. Este solo ao ''pé do caminho'', não era apto porque não foi ''arado'' para ser semeado. Os coração duros ouvem a Palavra de mau grado, indispostos a crerem antes de ouvirem, com suas mentes presas por pré-conceitos sobre Deus, Jesus e o Evangelho. Estes tem suas próprias verdades e crenças como um tesouro inestimável, e assim o diabo com facilidade arrebata a Palavra dos seus corações. A fé é o elemento principal que o coração deve abrigar para que a Palavra possa crescer e frutificar:
''Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.'' (Hebreus 4:2)
''Ora, sem fé é impossível agradar a Deus;'' (Hebreus 11:6a) 
 O solo entre pedregais. Este tipifica o coração superficial, raso, e que segundo Jesus: ''não tem raiz em si mesmo'', isto é, não cria raízes na Palavra. Este grupo tem a disposição inicial em receber o evangelho, mas provam posteriormente que tudo não passou de um entusiasmo emocional, que não foi uma experiência genuinamente espiritual e profunda. 

Os sinais que acompanham a pregação do evangelho geralmente arrebatam multidões, e muitos até confessam que Cristo é o Senhor diante dos sinas, mas a genuína vida que Deus produz no homem perdura por toda a vida, independente de sinais e milagres. Por isso Jesus diz que ''chegando a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofendem'' (Mt 13:21), eles não são capazes de entender e nem de confiar em Deus no tempo da angústia e da perseguição por não estarem fundamentados e enraizados na Palavra. Os sinais e milagres não são suficientes para fundamentar a vida espiritual. Deus é digno de confiança somente pela Palavra, não precisamos de nenhum sinal do céu para crer e confiar nEle, além da Cruz de Cristo! O Evangelho é suficiente:
''Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas.'' (Mateus 16:4)
 Jesus mostra como a vida espiritual a sós com Deus é uma prova cabal da salvação, da graça de Deus no coração do homem. Antes da semente nascer para cima, é necessário nascer para baixo, criar raízes em Deus! Pessoas superficiais, que vivem uma vida ambígua, não se dedicando totalmente a Deus na oração, na Palavra, na comunhão dos santos irão secar diante da tribulação - e ela virá. Estes facilmente ''se escandalizam'' quando Deus não envia socorro imediatamente, são rasos, irão definhar na fé. Observemos o paciente servo Jó e sejamos profundos em nossa vida espiritual!
''Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos.'' (Jó 42:5)
 O solo entre espinhos. Estes tipificam os corações que chegam no limite para produção. A Palavra cresce com até certa firmeza, mas eles não conseguem dar a primazia que a palavra requer e acabam caindo em um problema sutil e fatal: a improdutividade. O solo entre espinhos não é duro como o da beira do caminho e nem raso e infértil como entre os pedregais, o seu problema é que ele está contaminado com ervas daninhas e espinhos que crescem ''paralelos à Palavra'' e este é um grande problema. A Palavra de Deus não pode ter concorrentes no nosso coração para que produza frutos:
''Melhor é para mim a lei da tua boca do que inúmeras riquezas em ouro ou prata.'' (Salmos 119:72)
''Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.'' (Salmos 119:97)
''A tua palavra é muito pura, por isso o teu servo a ama.'' (Salmos 119:140)
 Portanto, é impossível que a Palavra produza frutos em um coração que não dá a primazia a ela. Isso exige a renúncia das paixões e dos prazeres do mundo e da carne que crescem em nosso coração, e assim é que Jesus fala deste tipo de pessoa: ''os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas, sufocam a palavra, e fica infrutífera;'' (Mateus 13:22b). Temos vários exemplos de pessoas nas Escrituras que deixaram os prazeres e cuidados deste mundo sufocarem a Palavra. Tinham tudo para darem certo, mas acabaram em ruínas: Judas Iscariotes e Demas são exemplos. O primeiro andou com Jesus, viu os milagres efetuados pelo Senhor e teve o privilégio de ser um dos 12 apóstolos escolhidos por Cristo, mas deixou a ganância e o orgulho sufocarem a Palavra e tirou a própria vida. Demas era um dos companheiros de Paulo, o apóstolo que foi amplamente usado por Deus, escreveu metade dos livros do Novo testamento, mas que no fim da vida do Apóstolo, diz: ''Demas me desamparou, amando o presente século'' (2 Timóteo 4:10a). 

Oh meu querido amigo! Que nós não caiamos no mesmo exemplo de negligência e mundanismo, tornando a Palavra infrutífera em nosso coração, mas sejamos sábio e renunciemos a nós mesmos e ao mundo por amor ao Senhor.

O solo ideal ou a boa terra. Por último então, temos a terra em que a semente produziu frutos, esta é abençoada. Esta produziu porque é terra arada, profunda e livre de espinhos e ervas daninhas. Ela representa o coração que recebe a Palavra com fé e disposição para obedecer. Estes entendem o Evangelho e tem raízes profundas na Palavra. O selo de Deus naqueles que o servem é o fruto do Espírito, estes se arrependem dos seus pecados e os confessam, e Deus lhes perdoa e lhe deu um novo coração!
''E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;'' (Atos 2:38)
''Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências;'' (Romanos 6:11-12) 
''Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança'' (Gálatas 5:22)
  Os fiéis, tementes a Deus, portanto, são caracterizados por seus frutos. O texto diz que estes produzem ''a trinta, sessenta e cem por um'', mas o fato é que todos produzem! Quanto mais nos aprofundamos na Palavra, mais firmes nos tornamos contra as intempéries da vida e mais produzimos frutos ao agricultor (João 15). Os crentes devem se esforçar por crescerem na graça e no conhecimento do Senhor, para que não corram o risco de se tornarem infrutíferos e serem cortados:
''Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus;'' (Hebreus 5:11-12)
''Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a benção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.'' (Hebreus 6:7-8)
''Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.'' (João 15:1-2)