26 de mai. de 2020

Salmo 1 (Warren Wiersbe).

O editor que colocou esta preciosidade no começo de Salmos agiu com sabedoria, pois as palavras desse cântico indicam o caminho para a bênção e advertem sobre o julgamento 
divino - dois temas freqüentes nos Salmos.

As imagens desse salmo lembram o leitor dos ensinamentos anteriores do Antigo Testamento. Em Gênesis, vemos pessoas caminhando com Deus (5:21, 24; 6:9; 1 7:1), o rio que dá vida (2:10-14) e também árvores e frutos (2:8-10). A lei do Senhor relaciona o salmo ao êxodo por meio de Deuteronômio. Ser bem-sucedido pela meditação dessa lei e obediência a ela nos faz lembrar Josué 1:8. O salmo apresenta dois caminhos: o da bênção e o do julgamento; e Israel deveria escolher um deles (Dt 30:1 5, 19). Jesus usa uma imagem semelhante (Mt 7:13, 14). A história da Bíblia parece desenvolver-se em torno do conceito de "dois homens": o "primeiro Adão" e o "último Adão" (Rm 5; 1 Co 15:45) - Caim e Abel, Ismael e Isaque, Esaú e Jacó, Davi e Saul - e chega a seu ápice em Cristo e o Anticristo. Dois homens, dois caminhos, dois destinos. 

O Salmo 1 é um salmo de sabedoria e trata da Palavra de Deus, das bênçãos de Deus sobre aqueles que meditam sobre essa Palavra e lhe obedecem e do julgamento final de Deus sobre os rebeldes. Os salmos de sabedoria também lidam com o problema do mal no mundo e a questão de Deus permitir a prosperidade dos perversos que rejeitam sua lei. Os outros salmos de sabedoria são: 10, 12, 15, 19, 32, 34, 37, 49, 50, 52, 53, 73, 78, 82, 91, 92, 94, 111, 112, 119, 127, 128, 133 e 139. Apesar deste primeiro salmo retratar dois caminhos, na verdade descreve três pessoas diferentes e como se encontram relacionadas às bênçãos do Senhor. 

1. A PESSOA QUE RECEBE UMA BÊNÇÃO DE DEUS (S l 1:1, 2) A aliança de Deus com Israel deixava claro que ele abençoaria a obediência e julgaria a desobediência (Lv 26; Dt 28). O termo "bem-aventurado" é "asher", nome de um dos filhos de Jacó ("Aser"; Cn 30:12). Trata-se de um termo plural: "O, as alegrias! Ó, as bem-aventuranças!" A pessoa descrita nesse salmo cumpria os pré-requisitos e, portanto, era abençoada por Deus. Se desejamos as bênçãos de Deus, também precisamos preencher certas condições. Devemos ser dirigidos pela Palavra (v. 1). Israel era um povo singular e separado; estava no meio das nações, mas não devia ser contaminado por elas (Nm 23:9; Êx 19:5, 6; Dt 32:8-10; 33:28). O mesmo se aplica ao povo de Deus hoje: estamos no mundo mas não somos do mundo (Jo 17:11-17). Devemos nos guardar de ter amizades com o mundo (Tg 4:4) que nos levem a ser maculados por ele (Tg 1:27) e até mesmo a amar o mundo (1 Jo 2:1 5-1 7). O resultado será a conformação com o mundo (Rm 12:1, 2) e, se não nos arrependermos, seremos condenados com o mundo (1 Co 11:32). Ló olhou em direção a Sodoma; em seguida, levantou sua tenda voltada para Sodoma e não tardou a mudar-se para lá (Gn 13:10-12; 14:12). Apesar de ser um homem salvo (2 Pe 2:7, 8), Ló perdeu tudo o que tinha quando o Senhor destruiu as cidades da planície (Gn 18 - 19; 1 Co 3:11-23). E aos poucos que mudamos para uma situação de pecado e de desobediência (ver Pv 4:14, 15 e 7:6ss). Se seguirmos os conselhos errados, ficaremos com as companhias erradas e, por fim, nos assentaremos com as pessoas erradas. Quando Jesus foi preso, Pedro não seguiu o conselho de Cristo para que fugisse do jardim (Mt 26:31; Jo 16:32; 18:8). Em vez disso, seguiu Jesus e entrou no pátio do sacerdote. Lá, ele ficou com os inimigos (Jo 18:15-18) e, por fim, se assentou com eles (Lc 22:55).Em decorrência disso, negou Cristo três vezes. Os "ímpios" são pessoas deliberada e persistentemente perversas; os "pecadores" são aqueles que erram os alvos determinados por Deus, mas não se importam com isso; os "escarnecedores" fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado (ver Pv 1:22; 3:24; 21:24). Quando rir das coisas sagradas e desobedecer às leis se torna uma forma de entretenimento, é porque, de fato, as pessoas chegaram ao fundo do poço. Devemos ter prazer na Palavra (v. 2). Passamos do aspecto negativo, no versículo 1, para o positivo. O prazer na Palavra e a meditação sobre a Palavra devem andar juntos (119:15, 16, 23, 24, 47, 48, 77, 78), pois pensamos sobre aquilo que nos dá prazer, e essas são as coisas que buscamos. No hebraico, "meditar" significa "dizer em voz baixa e suave", pois é o que os judeus ortodoxos fazem quando leem as Escrituras, meditam e oram. A Palavra de Deus está em sua boca (Js 1:8). Se falarmos com o Senhor sobre a Palavra, a Palavra falará conosco sobre o Senhor. E isso o que significa "permanecer" na Palavra (1 Jo 2:14, 24). Como povo de Deus, devemos preferir a Palavra aos alimentos (119:103; Jó 23:12; Jr 15:17; Mt 4:4; 1 Pe 2:2), ao sono (1 19:55, 62, 147, 148, 164), às riquezas (1 1 9:1 4, 72, 1 27, 1 62) e aos amigos (1 19:23, 51, 95, 1 19). A maneira de tratarmos a Bíblia é a maneira de tratarmos Jesus Cristo, pois a Bíblia é a Palavra dele para nós. No original, os verbos do versículo 1 encontram-se no tempo perfeito e se referem a um modo de vida determinado, enquanto no versículo 2, "meditar" está no tempo imperfeito e indica uma prática consoante. "Ele fica meditando".

2. A PESSOA QUE É UMA BÊNÇÃO (Sl 1:3) Deus nos abençoa para que possamos abençoar a outros (Cn 12:2). Se as bênçãos ficam conosco, as dádivas tornam-se mais importantes do que o Doador, e isso é idolatria. Devemos nos tornar canais das bênçãos de Deus para outros. É uma alegria receber uma bênção, mas alegria maior ainda é ser uma bênção. "Mais bem-aventurado é dar do que receber" (At 20:35). A imagem da árvore aparece com freqüência nas Escrituras e simboliza tanto um reino (Ez 17:24; Dn 4; Mt 13:32) quanto um indivíduo (52:8; 92:12-14; Pv 11:30; Is 44:4 e 58:11; Jr 17:5-8; Mt 7:15-23). Balaão considerou o povo de Israel "como cedros junto às águas" (Nm 24:6). Assim como uma árvore, a pessoa temente a Deus é cheia de vida, beleza e frutos e é proveitosa e duradoura. A parte mais importante de uma árvore são suas raízes que ficam dentro do solo e retiram dele a água e os nutrientes. Assim também, a parte mais importante da vida de um cristão são suas "raízes espirituais", que se alimentam dos recursos ocultos que possuímos em Cristo (Ef 3:17; Cl 2:7). É isso o que significa "permanecer em Cristo" (Jo 15:1-9). Nas Escrituras, a água potável é uma figura do Espírito de Deus (Jo 7:37-39; 1 Co 10:4), enquanto a água para se lavar retrata a Palavra de Deus (Sl 119:9; Jo 15:3; Ef 5:26). A sede de água é uma imagem da sede de Deus (42:1; 63:1; 143:6; Mt 5:6; Ap 22:17), e, com freqüência, um rio retrata a provisão divina de bênçãos espirituais e de ajuda para seu povo (36:8; 46:4; 78:16; 105:41; Êx 17:5, 6; Nm 20:9-11; Ez 47; Ap 22:1, 2). Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta; precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual. Uma das fontes de energia é a meditação na Palavra (v. 2); as outras são a oração e a comunhão com o povo de Deus. Como escreveu Alexander Maclaren: "A religião não tem volume nem profundidade, pois não é alimentada por mananciais ocultos". As árvores podem secar e morrer, mas aquele que permanece em Cristo mantém-se sempre verde e dá muitos frutos (ver 92:12-14). Os "frutos" se referem aqui a várias bênçãos: ganhar pessoas para Cristo (Rm 1:13), ter um caráter piedoso (Rm 6:22, Cl 5:22, 23), contribuir financeiramente para a obra do Senhor (Rm 1 5:28), servir e realizar boas obras (Cl 1:10) e louvar ao Senhor (Hb 13:15). É triste quando um cristão não dá atenção a suas raízes e começa a secar. Lembre que a árvore não come os frutos: eles são para outros. Também não podemos esquecer que frutos não são a mesma coisa que "resultados", pois os frutos têm dentro de si as sementes para mais frutos. São decorrentes da vida de Deus fluindo por nós. O justo descrito nos versículos 1 a 3 é, sem dúvida, um retrato de Jesus Cristo, que, de acordo com João 14:6, é o caminho (v. 1), a verdade (v. 2) e a vida (v. 3). 

3. A PESSOA QUE PRECISA DE UMA BÊNÇÃO (Sl 1:4-6) A primeira metade do salmo descreve uma pessoa temente a Deus, enquanto a segunda metade concentra-se nos ímpios - aqueles que os cristãos elevem procurar alcançar com o evangelho. Como essas pessoas precisam conhecer a Deus e receber suas bênçãos em Cristo! 

As Escrituras descrevem os perversos de várias maneiras, sendo que, nesse caso, a imagem usada é a da palha. Ao contrário dos justos, que são como árvores, os ímpios são mortos, sem raízes, espalhados por toda parte e destinados ao fogo. A palha não tem valor algum. Quando os grãos são selecionados, o vento leva a palha embora e toda a palha que ainda resta é queimada. João Batista usou essas mesmas imagens de árvore, fruto e palha para advertir os pecadores e chamá-los ao arrependimento (Mt 3:7-12). Os perversos deste mundo parecem ricos e fortes, mas do ponto de vista de Deus, são desprezíveis, frágeis e destinados ao julgamento. (Ver Sl 73.) Não é de se admirar que Jesus usasse o depósito de lixo do lado de fora de Jerusalém (conhecido como sehena) como uma figura do inferno, pois era lá que os restos sem valor iam para o fogo (Mc 9:43-48). A palha fica muito próxima dos grãos, mas no final, os dois são separados, e a palha é levada pelo vento ou queimada. Até que isso aconteça, porém, temos a oportunidade de testemunhar aos ímpios e de levá-los para Cristo. Quando o dia do julgamento chegar, o Senhor, o Justo Juiz, separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum incrédulo poderá reunir-se com os justos. 

O verbo conhecer, no versículo 6, não quer dizer que Deus está apenas ciente da existência dos justos em nível intelectual e que se lembra deles. Antes, significa que os escolheu e que os guardou providencialmente, conduzindo-os, por fim, a sua glória. Como no caso de Amós 3:2, o termo conhecer é usado com o sentido de "escolher, entrar numa relação de aliança, ter um relacionamento pessoal". No dia do julgamento final, Jesus dirá aos perversos: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7:23). Este salmo começa com a ideia de ser "bem-aventurado" e encerra com o conceito de ser "destruído". Os verdadeiros cristãos são abençoados em Cristo (Ef 1:3ss). Receberam a bênção de Deus e podem ser uma bênção para outros, especialmente para a palha que um dia será lançada ao fogo. Esforcemo-nos para ganhar o máximo de pessoas para Cristo.

6 de mai. de 2020

O ateísmo é justificável? (Felipe A. Pereira)

"Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam a iniquidade" (Salmos 53:1-2a)
Grande parte do suposto Ateísmo existente não parte de alguém convicto intelectualmente da inexistência de Deus, baseado em evidências científicas e argumentos filosóficos profundos. Até porque poucos avançam a este nível de pensamento (se é que seja possível alcança-lo).
A esmagadora maioria desse ateísmo prático é simplesmente uma justificativa para continuar pecando sem ser atingido pelo agudo senso de juízo. Afinal de contas, sem um Deus que exija a justiça e a bondade, estamos livres para afrouxar e até exinguir, se possível, os mais elevados ideais de bondade e amor que Deus estabeleceu e fixou em nossa alma.
Mas ainda alguém poderá dizer: de que adianta perseguir estes ideais divinos se não os posso alcançar? Não estaremos de igual forma aquém da justiça requerida? Este alguém tem toda razão. Este seria um argumento ateísta ou puramente cético mais nobre eu diria, porém não justificado também. Isto porque o Evangelho que revela Jesus Cristo como a justiça de Deus para todo aquele que crê, torna toda forma de escape ineficaz. Veja o que Jesus disse:

"Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á" (Mateus 16:25)

Portanto, não se trata mais, no que diz respeito à justiça necessária, do que podemos fazer ou alcançar, mas sim, do que Jesus fez e alcançou como homem. Ele viveu perfeitamente e se tornou nosso novo representante (em lugar de Adão), e morreu nos substituindo para remover nossa sentença diante de Deus. A vida e morte de Jesus foram aceitas por Deus, e como sinal de aprovação, Ele ressuscitou! Glória a Deus.

O que nos resta agora é a escolha: Continuamos vivendo nossas vidas em Adão, debaixo de maldição. Ou abandonamos essa forma de vida para abraçar, pela fé, a vida em Jesus. Adão está condenado, nada pode fazer por si mesmo. Jesus ressuscitou, provando que é Senhor da vida e da morte! Faça sua escolha.